Polanski ao molho Coen


O Escritor Fantasma (The Ghost Writer)

Certamente, quando você passa pela situação de dar risada em momentos não propícios é porque aconteceu algo atípico naquele local e naquela determinada situação. Ao assistir “O Escritor fantasma” fiquei na mesma situação de ter que segurar algumas risadas irônicas, justamente pelo momento não aparentar algo que realmente mostrava a liberdade de expor um sorriso. Porém, para um filme que se trata também de política, Polanski só poderia estar de brincadeira também.
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Embora apresente uma estrutura narrativa precisamente impar, Roman Polanski não se desvirtua de suas próprias características (a primeira tomada já lembra “Chinatown”), além de referenciar a todo o momento o estilo Hitchcockiano tanto através de alguns diálogos densos que constroem um take longo, ou até mesmo toda a ambigüidade ambiental e ainda mais perceptiva na trilha sonora.
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Apesar de todo o cuidado nos detalhes visto na fotografia e trilha, a narrativa acaba por ser o objeto usado pelo diretor para fazer como o próprio personagem Pierce Brosnan (Adam Lang) faz a todo o momento que é embutir um falso carisma escondido por trás de uma história reta. Sendo assim, vemos um tom adocicado em cada cena do filme. Pois, a percepção que fica é a de que, se vermos inúmeras situações do filme como uma ironia intrínseca ao próprio momento, percebemos que tem um tom pastelão escondido por trás de uma história aparentemente séria.
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E essa ambigüidade entre seriedade e diversão não para somente na narrativa, mas observe que nos diversos cômodos que são construídas as cenas, por mais belas e aconchegantes que aparentam ser, nenhuma delas passam segurança. A casa moderna, de extrema beleza, não atrai um clima aquecido, ainda mais que os vidros enormes e a visualização externa só contribuem para a frieza interna, tanto física quanto espiritual (e pode parecer loucura, mas eu acho que o tempo em que Polanski ficou preso colaborou para tal) e para fortificar isso, a todo o momento o barulho da ventania fica diante de nossos ouvidos. Por falar nisso, a trilha sonora também é de uma incerteza incrível, pois sempre tem uma notinha estranha no meio da música, fazendo com que a canção tensa pareça se transformar repentinamente em perseguição de Tom e Jerry.
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A insegurança é a característica mais constante dentre a maior parte dos personagens. Por mais que representem status grandes, ainda assim se tornam crianças nos acontecimentos do dia a dia. E é por ai que ouso a dizer que a aura de Polanski aqui, se assemelha muito a toda ironia dos Coen. Ewan McGregor trabalha firmemente e toda a ameaça que o cerca, junto com suas fugas bizarras, acaba por denotar o seu personagem como uma pessoa completamente perdida no meio em que vive. Pierce Brosnan se desenvolve facilmente para deixar visível seu egocentrismo em sua cara, mas não esconde seu desequilíbrio político e Olivia Williams também representa fortemente uma personagem sem controle algum de si mesma, no mais, as demais participações só contribuem no pouco espaço que lhes são dadas.
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E é assim, com muita sutileza, tanto no suspense quanto no humor irônico implantado que Polanski faz mágica, pois dentro de uma poesia visual, de todo embaraço político e de máscaras pessoais, ele consegue ser elegante ao extremo e ser deliciosamente divertido e fazer da síntese narrativa, algo que poucos diretores fazem, até mesmo quando estão em liberdade.
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(Filme Ótimo)

23 Response to "Polanski ao molho Coen"

  1. Legal. Gostei do blog, estou seguindo e já linkei ao meu blog também. Se pudesse fazer o mesmo com o meu, ficaria muito grato. Abraço;

    http://omundodoscinefilos.blogspot.com/

    Muito bom teu texto, pois difere de todas as críticas e opiniões que andei lendo sobre este filme.

    Desconhecia o tom irônico e humor inteligente que o filme tem, e isso ficou evidenciado no seu texto.

    Preciso conferir o filme! abraço!

    Dr. Soup. Já está linkado! Abraço!


    CRISTIANO, valeu cara! E realmente eu fiquei preocupado quando percebi que tinha visto algo diferente dos demais no filme, mas esta ae! Abraço!

    Mais uma vez vc arrazou Alyson, esse seu olhar que difere do "básico", ou seja, do que a maioria vê é muito interessante, faz entender que tem muita coisa envolvida do que podemos entender e vc busca justamente isso "o algo a mais" parabéns vc é muito bom nisso

    Bia, valeu! Ahh, sim, sempre busco ver algo a mais e hoje,ainda bem, consigo ver isso automaticamente. Por isso as vezes meus textos parecem loucos, mas como é impossível agradar a todos, estamos ae! hehe! Beijos!

    Hey Alyson, tudo certo?

    Wow! Desde quando li teu comentário no blog de que achou o novo Polanski um tom pastelão, esperava ler seu txto, no mínimo, curioso. Você conseguiu expressar bem no texto seu ponto de vista que se difere da maioria dos textos que li a respeito do filme, mas não deixo de concordar com vc em algumas passagens. Afinal, o riso também me assaltou em algumas cenas, mas nem foi por ironia, mas por encantamento mesmo rs. A sequência final do bilhete ou mesmo as folhas voando sobre a viela fria (Hitchcock, cadê vc?) me deixou boquiaberto, fora outras cenas que se for para citar... enfim.

    mas Polanski tem total propriedade de "brincar" com a política conforme tu disse, já que isso foi sempre um percalço na sua vida (merecidamente, se vermos até o ponto em que pagou o crime que cometeu). Enfim, sem entrar na biografia do diretor, filme com uma elegância ímpar e um dos melhores realizados por esse diretor. Agora, livre! o/


    abraço!

    ELTON, Valeu! Po, com certeza, Polanski teve uma elegância incrível nesse trabalho. As cenas que citastes realmente são silenciosamente fantásticas e de uma ambiguidade impar. Ainda bem, agora livre para nos entregar mais dessas obras! Abraço!

    Oi Alyson, tudo bem?
    Lembro do nome do seu blog e ter lido e comentado algum tempo (faz tempo) estou enganado? Mudou o visual e tal...enfim...

    gostei daqui e de seus textos. Excelentes críticas de Misery e o novo HIT Kick-Ass, obras que tenho predilação.

    Quanto ao filme do Polanski, de fato, você me surpreendeu com este lado engraçado que aborda (adorei o título e a menção aos COEN). Assisti uma vez no cinema e recebi o filme de outra forma, mas o que você diz tem sentido. Vou conferir de novo em DVD.

    Abraços.
    Te convido ao: http://cinemarodrigo.blogspot.com/
    Rodrigo

    RODRIGO, blz e você?! Rapaz, minha memória é fraca, portanto nem lembro direito daquela época..rs! Peço-lhe desculpas! Sim, o blog mudou o visual sim! Que bom que gosta dos textos, muito obrigado! Estarei te linkando. Grande abraço!

    Oi Alison!!

    Achei seu blog por acaso e invadi...gostei da sua perspectiva ao analisar O Escritor Fantasma...realmente deve ser um ótimo filme, que ainda não tive a oportunidade de conferir, mas já está no meu caderninho de filmes pendentes...já estou te seguindo e te linkei no meu blog, o 1/3, também de cinema...se puder, me visite...

    Abrs

    GUI BARRETO, que bom que gostou! Já o visitei e linkei! Abraço!

    Emmanuela says:

    Olá !!

    Não posso comentar de forma concreta sobre este filme com você porque ainda não tive a oportunidade de assistir, mas seu texto - bem aprofundado - aguçou minha curiosidade.

    Obrigada pelo seu elogioso comentário lá no cinema pela arte!
    Vou linkar agora mesmo e já sou mais uma seguidora!!

    Até logo!

    Olá Alyson!
    Que bom que gostou do meu blog! Estou te seguindo também! =)

    Sobre o filme, estou super ansioso pra assitir! Vi o trailer (coisa que geralmente não faço) e já me simpatizei muito. Com sua crítica (muito bem escrita, por sinal) fiquei ainda mais curioso! Preciso ir ao cinema!

    Abração!!

    Sandro Azevedo
    blog24fps.blogspot.com

    Infelizmente ainda não vi O Escritor Fantasma, mas gosto muito do Polanski, acho Dança dos Vampiros fantástico!
    Gostei muito do seu blog também e já estou te seguindo e linkarei seu endereço la no meu também.

    Abraço
    Vitor Silos
    www.volverumfilme.blogspot.com

    MANU, valeu! Procure ver o filme, realmente é de qualidade.

    SANDRO, Brigado, cara! Aproveite essa oportunidade de ve-lo no cinema, coisa que eu não tive. Abraço!

    VITOR, Valeu! Visitarei-o sempre que puder! Abraço!

    Kamila says:

    Ainda não conferi este filme, mas estou bem intrigada pela trama. Espero que ele estreie logo em minha cidade.

    KA, esse filme nos cinema realmente não vem sendo muito exibido, infelizmente. Bjus!

    w says:

    Ah, acho que o humor presente do filme foi sim bem intencional. Agora, o filme é mesmo bem diferente de tudo que Polanski já fez. E, ao mesmo tempo, traz toda aquela virtuosidade estética e narrativa que ele já demonstrou anteriormente. Aquele plano final é 10!!

    Wally says:

    w = wally =P

    Deixei o filme passar batido nos cinemas, agora tenho que aguardar nas locadoras.

    Saulo S. says:

    Olá Alyson, gostei do teu blog, sua crítica é bem coerente e me fez ficar com mais vontade de ver o filme!

    Abraço
    volverumfilme.blogspot.com

    Alyson
    Mais uma vez estou eu aqui sem palavras , sem poder descrever a alegria que sinto ao ler seus textos, ele congelam minha mente, me deixam boquiaberta.As sua analises criticas são extremamentes boas, mais uma vez vc me surpreendeu com sua singularidade... PARABENS

    MIK, Que isso!
    Obrigado mesmo! Beijos!

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