Esquece-se a obra, eterniza-se o seu efeito


A HISTÓRIA DA ETERNIDADE (2014)
Direção: Camilo Cavalcante
Duração: 2h 1m
Elenco: Marcelia Cartaxo, Leonardo França, Débora Ingrid ,Claudio Jaborandy ,Zezita Matos


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Um dos filmes brasileiros mais premiados da temporada teve uma exibição modesta nos cinemas daqui (a vá!) e recebeu espaço na grade do excelente e lindão Canal Brasil. O filme, que já é um dos melhores do ano e o que ocupa o topo dentre os nacionais, é carregado de um tom poético, que não se limita as linhas do roteiro, mas também ao olhar sensível que o diretor e roteirista Camilo Cavalcante tem para filmar e conseguir os melhores ângulos para tornar difícil a escolha da melhor cena do longa. A obra extremamente simbólica e espiritual, que se ambientaliza no sertão brasileiro, dá aos olhos do espectador um deleite lírico pela fotografia de seu ambiente. A narrativa é extremamente humana, de apego às raízes e de amor à simplicidade do coração de suas figuras, que fazem atravessar a tela as suas forças pelos caminhos de suas delicadezas.  A história da Eternidade é capaz de eternizar sentimentos muito puros em seus espectadores. Pode se esquecer a obra, mas se carrega para sempre o seu efeito. 

Entre a Máscara e a Realidade


CASA GRANDE (2015)
Direção: Fellipe Gamarano Barbosa
Duração: 1h 57m                                                    
Elenco: Marcello Novaes, Suzana Pires, Thales Cavalcanti, Clarissa Pinheiro, Bruna Amaya, Alice Melo


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Junto a A História da Eternidade, Casa grande preenche o topo dos melhores filmes brasileiros  lançados em 2015. O estreante diretor e roteirista Fellipe Gamarano  transforma a família como pequena e primeira sociedade do homem em um reflexo do todo social, fazendo de sua obra um documento que se firma como um reflexo do país e, em alguns outros aspectos demarcados, demais culturas em que se encontra a desigualdade social, resultante da diversidade racial e também diferença financeira. Outro fator incrível e de extrema importância para à arte como reflexo social é o jogo de dependência entre as classes: por ter uma família em estado de falência, o longa relata não somente a necessidade do pobre em servir ao rico, mas também o extremo oposto, que junto a essa problemática trás outras ligadas a moral e a ética, clarificando como a questão do status também pode ser superior a cumprir as responsabilidades com classes mais baixas. E talvez o maior mérito do filme é deixar tudo tão bem construído para o espectador e deixar por ele mesmo a decisão de qual lado ele está.

Junho, um documento histórico


          JUNHO - O MÊS QUE ABALOU O BRASIL (2014)

Direção: João Wainer    Gênero: Documentário  Duração: 1h12m 
Com Gilberto Dimenstein, Luiz Eduardo Soares, Sergio Adorno, Contardo Calligaris


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Dois anos após os protestos de 2013, “Junho – o mês que abalou o Brasil” talvez seja a única coisa séria, coerente e formada sobre as manifestações e até mesmo mais concisa do que as próprias . O documentário dirigido por João Wainer é um projeto imparcial e democrático, como deveria ser. Passando e demarcando cada dia desse momento histórico no Brasil, o filme marca a importante origem das protestações, mas denuncia o caminho equívoco que a mesmas podem ter tomado. Entretanto, o que há de mais interessante nesse documento são as novas perspectivas que se pode ter com os depoimentos de representantes de classes isoladas, que dão uma nova ótica das ações acontecidas no evento. Além de seu caráter político, tecnicamente o filme apresenta suas particularidades. Da ideia rápida de documentar os acontecimentos, sem condições prévias de montagem, a edição do trabalho documental é de uma força imensa e que carrega o espectador de forma dinâmica, fugindo do tom jornalístico e conseguindo colocá-lo em posto cinematográfico, como receptor. E isso não é fácil, galera! O documentário se torna um exemplar sólido, que deve ser revisto a cada ano como um reflexo da fragilidade política do país, assim como um viés educacional para a estruturação oficial de uma nova geração. 

Seria trágico, se não fosse... trágico mesmo


                                 ENTRE ABELHAS (2015)


Direção: Ian SBF
Duração: 1h39m
Elenco: Fábio Porchat, Giovanna Lancellotti, Irene Ravache, Marcos Veras


                                                      ロロロ



Um tanto complicado ter alguém conhecido por programas de humor estampando a capa de um filme dramático. Diria trágico. Essa talvez seja a principal característica do surpreendente “Entre Abelhas”, que tem Fábio Porchat como seu protagonista. A intrigante história do rapaz que, com o tempo, vai perdendo a capacidade de ver algumas pessoas, consegue ganhar linhas em um roteiro que se mantém preciso até o final da fita (Salvo algumas cenas que você olha e diz: Que deselegante). O mesmo faz uma análise interessante quanto ao homem e a necessidade indireta do próximo. Dos caminhos frágeis que a solidão apresenta. Ainda assim, o filme acerta em não se permitir filosófico, o que facilmente o faria cair num ralo de pieguices e didatismo barato, como se Paulo Coelho ou Augusto Cury fossem os roteiristas (Rá!). Outro fator muito importante que faz o longa caminhar por trilhos corretos, dentro de um campo repleto de fatores que poderia torná-lo incoerente, é a exploração de um humor muito bem cuidado, fazendo o espectador rir do escrachado e principalmente do trágico. “Entre Abelhas” vale pela eficiência de todos os seus modestos objetivos. 









Fica para à próxima


                                           ISOLADOS (2014)


Direção: Tomas Portella
Duração: 1h30m
Elenco: Bruno Gagliasso, Regiane Alves, José Wilker


                                                          ロロ



Rara tentativa de produção brasileira em criar um suspense nacional e pode-se dizer , sem dúvidas alguma, que ainda não se chegou lá. Tsc. O pesar fica por quesitos estéticos, técnicos e de divulgação que não são aproveitados, nem mesmo os mais simples, como causar um medinho. E não. Não causa. A insistência infantil em manter a câmera nervosa (e o espectador também e and not in a good way), sem se permitir entender como subjetiva ou acompanhante, faz de Isolados um filme que , na tentativa de assustar, mais se vê como irritante. Ora, se o espectador não vê o que está acontecendo, pouco tem o que sentir, senão desconforto. E não de uma boa maneira (again!!). Ganha algum destaque na fotografia e um visível cuidado com a iluminação, mas pra filme bom(zinho) precisa de muito mais do que isso.  

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