Nine

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Se há alguém que tem realmente uma história de vida para contar, esse alguém é uma mulher, independente da classe social, de sua raça, de sua formação ou profissão. Mulher tem currículo, mesmo que nunca tenha trabalho. Mulher tem dia único por motivos heróicos. Mas, Rob Marshall esqueceu delas em “Nine”: lembrou-se de expô-las, mas esqueceu de argumentá-las e mulher sem caráter não existe e filme sem personagem também não.
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Defina a personagem de Judi Dench. Tente definir a de Fergie, agora a de Kate Hudson. Conte quantas palavras Nicole Kidman tem no roteiro e tem como saber quem é Sophia Loren no filme, se não for pela aparência de mais velha? Day-Lewis tem uma figura a explorar (também pudera, é o protagonista), mas o que adianta sendo que é a pior de sua carreira, junto com a injustificável indicação de Penélope Cruz com uma personagem que possui falas sem significado para si e para a trama. O espectador é obrigado a decifrar quem é quem em cena, justamente por esse minimalismo nos caracteres, para não dizer um oco total. E não por isso que a melhor atuação do longa, saia de quem tem um pouco mais de personalidade na narrativa: Marion Cotillard se salvando.
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Há dias que as estrelas não brilham, mas o céu está lá. Aqui, estavam as estrelas, mas faltou o pano de fundo para apresentá-las. Como dito, julgar o elenco se torna neutro quando eles não têm com o que se apresentar. Kidman no meio de tantas cores, ainda consegue ficar apagada. Há tempos que não a vejo atuando, assim como há tempos que não vejo Rob dirigindo. Algumas, se não fosse pela beleza e sensualidade tentadora (Penélope!!) eu nem lembraria que tinha passado diante de mim, as demais até amanhã já esqueci. E o que Sophia Loren esta fazendo ali mesmo? E o pior disso tudo é quando chegamos a conclusão que até o elenco de Avatar (onde assumidamente não é priorizado) que é bem mais barato, consegue algo mais relevante do que os daqui.
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“Nine” por vezes comprova ser um vídeo clipe, com poucas alterações nos cenários, cortes abruptos, câmera invariante, e o principal é que se vêem pessoas cantando e não atuando. Eu não vi Saraghina, vi Stacey Ferguson. Eu não assisti Stephanie, eu assiti Kate Hudson. A sensação é de um programa de Tv (A primeira tomada me lembrou “Crianças Esperança” e a apresentação de seus apresentadores) ou unicamente uma peça teatral moldada que teve uma história por fora embutida, mas com o único intuito de chegar ao momento de uma apresentação novamente artificial, até ganhar tempo e chamar de filme. Marshall é falso cinema. É truque, meu amigo otário.
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O Diretor não vai de encontro com o “The Musical is Back” que Hugh Jackman entoava no Oscar do ano passado, mesmo quando algumas apresentações se baseiam em estilos antiquados, como a apresentação da Penélope Cruz, mas “Nine” tem lá seus momentos extremamente passageiros que não compensa nenhuma das diversas falhas existentes na obra. Com muita boa vontade e de maneira particular considero “Be Italian” o momento do filme. Era pra ter fogo, Fergie incendiou. No mais “Cinema italiano” trás Kate Hudson linda, mas vazia e o quadro de alternâncias de cores é bem batida e único ponto de referência à década de sessenta, baseando-se apenas no preto e branco.
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Por fim, todas essas mulheres mais Day-Lewis cantam e dançam com vigor e entusiasmo e os resultados são irregulares, mas não podemos acusar ninguém de não tentar trazer momentos orgasmáticos para os fãs de musicais que usufruem disso apenas uma vez por ano, mas com trabalhos medíocres como “Nine” que sobrevive unicamente dos números da produção e assim ficando cada vez mais difícil atingir algum ápice. Mas, de qualquer maneira, “Nine” a principio é superaquecido, mas com o desenrolar vai ficando cada vez mais desinteressante e fecha no conservadorismo americano e o gosto de sedução que sentíamos pelo elenco, se transforma no gosto amargo do desperdiço e decepção.
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Cotação: (Filme ruim)

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