O Hospedeiro ( The Host, 2007)


A morte de Michael Jackson fez-me escrever só agora sobre “O Hospedeiro”, filme lançado em 2007, aqui no Brasil. Se quem me lê, não captou a relação de ambos, explano o porquê deste ponto de interrogação que sai de vossa cabeça. Não só de homenagens à mídia usufruiu ao padecimento do rei do Pop, deixam o sentimentalismo para cair na “graça da desgraça” alheia. Não só deste exemplo sobrevivo, poderia citar o atentado de 11 de setembro, ou a morte da Isabella Nardoni. Por fim, sabemos então que, por vezes, antes de ocorrer algo trágico ocorre a tensão, o suspense, tendo como resultado o horror. A repulsa. Que depois cai nas graças da comédia. Do humor negro. Das ironias, do universo.
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Muitos estranham o aglomerado de gêneros e sensações que Bong Joon-ho joga para fora da tela, na controversa história baseada no incidente McFarland, onde neste filme é focalizado o caso de uma família que perde a menina Hyun-seo, que é cuidada com muita atenção por todos da família, desde o preguiçoso pai Kang-du e o atencioso avô Hie-bong, até os tios Nam-ju, uma arqueira olímpica, e o advogado desempregado Nam-il, depois do ataque de um monstro surgido do rio Han.
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A estrutura usada por Bong tem como objetivo criar uma unidade de ação: existe uma combinação de atos lineares, onde uma parte depende de outra surgindo uma explicação plausível antes mesmo de surgir alguma interrogação. Vê-se isto desde a primeira parte do longa, como que o monstro surgirá das águas. Além de que, logo em sua introdução, os estadunidenses do filme estão como cobaias de termos equivocados sociais, primeiro como mandante da poluição do rio Han, mostrando toda negligência e imperícia, além do tom de imposição sobre os demais. E logo adiante no filme, teremos o cientista também norte americano (Aquele que não anda por onde olha), como figura patética que os demais Sul-coreanos o segue e não contestam pela ilusão de que o louco realmente é o paciente Kang-du e não o cientista maluco.
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A crítica a nação norte americana como tutora do incidente de McFarland, não fica somente em limar os americanos presentes no filme, mas também em seu enredo, desde a crítica ao sistema capitalista sempre enfatizado por aquela nação, vistas em alguns diálogos, como “Não entendo esse povo que acha que dinheiro compra tudo”, seria até uma frase comum, se não saísse da boca de um mendigo, ou outras alfinetadas como a busca de resoluções norte americanas, através de guerras, saída de uma das crianças “ Essas pessoas só andam aos tiros”, alem das citações sobre a poluição e o próprio conformismo da população da Coréia do Sul.
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Uma das coisas que mais dão méritos a esta obra de Joon-ho, é a maneira de embutir todo este conteúdo intertextual, dentro de um liquidificador com um aglomerado de gêneros que teoricamente poderiam até se converter, mas que aqui possuem uma harmonia grandiosa que se encaixam em momentos corretos. Mas, pode-se até dizer que Bong procura base na tragédia para formular outros sentidos à trama. Vemos que tudo está numa crise de valores e o monstro surgiu para piorar ainda mais as coisas, tudo fruto do homem e nada mais.
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Mas, o diretor ainda trata da tragédia de forma que prende o espectador, tanto pela já clássica cena do ataque do monstro, impiedoso, ágil e que chega sem aviso, quanto pela agradável maneira de tratar de todos os ocorridos da história, independente do sentido que ela queira passar. Depois do desaparecimento de Hyun-seo , temos a primeira demonstração de Bong de que o trágico acaba caindo no riso. No ridículo. Como o descontrole emocional no “velório” da menina, que muda todo o sentido em poucos segundos, mas que não perde a sua essência. Uma pena que alguns espectadores rejeitem essas emoções.
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Por trás dos efeitos B, em cima do monstro, existe uma construção estupenda dos personagens que rapidamente faz o espectador terem simpatia pelos mesmos, sendo assim, para depois os efeitos do clímax ser mais enfático, pois tudo está voltado para a família Park e não para o monstro. Bong usa o monstro mais para crescer o caráter de suas figuras, do que para destruir a cidade e tirar vidas. Cara experto. Mais interessante ainda, é pelos heróis na história terem um alicerce entre a força do “eu” e a do destino, mas tudo envolvido no caos mundial, pela sociedade e pelo juízo, além dos personagens sempre terem uma “falha trágica” (O pai que pega a menina errada, o avô que pega uma arma sem bala, a tia que não atira a flecha a tempo, o tio que erra todas as garrafas no monstro e até a Hyun-seo quando tenta sair do esgoto, além da falha coletiva da policia e dos cientistas em não acreditarem na família). E é até em vão dizer, o quanto estas personalidades são interpretadas com excelência.

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Visto que a tragédia aqui também consegue resultado na comédia, o drama acaba sendo uma anomalia entre ambas. Em “O Hospedeiro” se vê, tratando-se da carga dramática, uma assimilação dos métodos contemporâneos com os antiquados: constrói em cima das forças sociais ou particulares, mas não deixa de lado o conteúdo histórico. Portanto, a junção que o roteiro faz é ir buscando dentro de cada gênero, mais profundidade e assim, retirando do trágico, a comédia e do drama usufruir dos dois, criando a tragicomédia e também o melodramático.
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Friso agora que peguei o falecimento de Michael para mostrar as atitudes dos ainda vivos em cima do Pop star, assim como são mostradas as atitudes “humanas” em “The Host” (E não que eu fosse comparar a estética do monstro com a face de Michael) e por fim, “O Hospedeiro” se declara um filme importantíssimo para este século e continuará sendo durante muito tempo (E pensar agora que toda essa história das bombas coreanas contra os EUA, daria ainda mais conteúdo a Bong...), mas que possui um caráter subjetivo que poucos diretores conseguem assimila-los com perfeição. Bong arremessa da tela as emoções que o homem vive em seu dia a dia: você se retesa, ri, se arrepia, estagna, chora ou qualquer outra sensação que o homem vive em sua jornada vital.

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Cotação: ³ ³ ³ ³ ³ (Filme excelente)


SOARES, Angélica. Gêneros Literários. 4.ed. São Paulo: Ática, 2003.


Entre os muros da Escola (Entre les murs)


Há quem se surpreenda com um filme francês demonstrar o que acontece no dia a dia nas escolas públicas de seu país, quando este contém um desenvolvimento considerável em suas rendas. Mas, caso pensem que o diretor Laurent Cantet usa suas câmeras para seguir o que o próprio título já nos diz ou apenas como referência à sua nação, engana-se, pois “Entre os muros da escola” ultrapassa fronteiras e registra algo praticamente universal.
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O que há de surpreendente neste filme é o elenco ser totalmente amador, tendo o nome dos personagens como o mesmo dos atores e por ir além de uma atuação qualquer, onde dão uma sensação de realidade extrema em que faz a câmera de Cantet parecer extremamente documental, como se elas estivessem pregadas as paredes da sala e os alunos estivessem sendo monitorados. E por essa proximidade da câmera mesmo, mostra a capacidade do elenco em seus primeiro filme e também por estarem se auto retratando em película de forma precisa.
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O que se extrai do filme é tão amplo quanto às polêmicas referentes às escolas públicas existentes. Talvez, os reflexos sociais que cada personagem representa e é minuciosamente explícito não venha apenas do Professor Marin (Que também escreveu o livro ao qual o longa baseia-se), mas sim dos sociólogos das décadas de trinta como Emile Durkheim e alguns mais recentes como Davaillon e Van Zanten, onde o reflexo de fatores extrínsecos aos que se vê no filme estão diretamente ligados as atitudes dos alunos dentro de sala,pois a força das situações sociais atuam de forma veemente em cima dos membros das escolas públicas. Mas, são automáticas as referências dos sociólogos em cima do que acontece no filme, mas não deixa de ser uma soma.
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Laurent ainda registra o que é muito comum pela França: estudantes estrangeiros, em sua maioria, de forma impreterível têm em seus estudos o fracasso como resultado final. Isso está representado principalmente pelo novato Carl, que desde o principio já são soltos termos de sua vida como reflexo de suas atitudes dentro do colégio. Outra observação são os equívocos no método de ensino usado nas escolas (Uma das coisas que mais se assemelha com o Brasil) que logo fazem os alunos tomarem certas atitudes descompromissadas com a aula, por serem mal elaboradas. Isso me fez lembrar do livro francês chamado Le Tour de la France par deux enfants (Que foi reescrito por Bilac aqui no país, com o nome de “Através do Brasil”) onde seu caráter pedagógico mostra a cautela que deve ser tomada numa sala de aula e que temos que usufruir de uma forma mais divertida para ensinar os alunos. Agora entendo melhor a intenção do livro.
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O final de “Entre os muros da escola” fez-me lembrar do sistema abordado na Coréia do Sul. As salas vazias e o barulho do pátio onde jogavam futebol e todos se divertiam, remete ao que os sul-coreanos fazem nas mais de oito horas de aula que seus alunos possuem, com divertimentos que não deixa de lado que o adolescente aprenda o que deva ser aprendido (Se não o Professor é demitido e deixa de ganhar o seu excelente salário), mas melhor ainda seria que estudantes daquele colégio (que representam muitos outros) percebessem que a mesma força que eles tinham em suas expressões com os professores, poderia servir como escudo para mudar a situação de suas vidas para o futuro em relação à falta de atenção que lhes são concebidos como cidadãos.
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Estrutura simples, mas que consegue perfeição em seu conteúdo.

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Cotação: ³ ³ ³ ³ (Filme Ótimo

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