83ª Annual Academy Awards

E o grande dia está chegando e então deixo aqui as minhas apostas. Destaco que essa sequencia não significa o que eu quero que aconteça, mas sim uma análise da chance de cada filme levar a estatueta para casa, demonstrada em forma de porcentagem. Pois, deixo claro que a minha torcida do prêmio maior é para "Cisne Negro", assim como queria muito que Melissa Leo levasse o de melhor atriz coadjuvante e Jesse Eisenberg o de melhor ator. Mas, existe toda a politica do festival e é baseado nela que faço essa relação, não só de melhor filme, mas sim as demais categorias que cada longa pode ganhar.


A REDE SOCIAL

Melhor Filme (21%)
Melhor Montagem
Melhor Trilha Sonora
Melhor Roteiro Adaptado



O DISCURSO DO REI

Melhor Filme (18%)
Melhor Ator: Colin Firth
Melhor Direção de Arte
Melhor Fotografia
Melhor Figurino
Melhor Roteiro Original

O VENCEDOR


Melhor Filme (13%)
Melhor Atriz Coadjuvante - Amy Adams
Melhor Ator Coadjuvante- Christian Bale


CISNE NEGRO

Melhor filme (12%)
Melhor Atriz - Natalie Portman


TOY STORY 3

Melhor Filme (11%)
Melhor Animação
Melhor Canção Original (We Belong Together)

BRAVURA INDÔMITA

Melhor Filme (8%)

127 HORAS

Melhor Filme (7%)


A ORIGEM

Melhor Filme (6%)
Melhor Edição de Som
Melhor Mixagem de Som


MINHAS MÃES E MEU PAI

Melhor Filme (3%)


INVERNO DA ALMA

Melhor Filme (1%)


Insípida Cor


127 Horas (2010)

A cada segundo da rodagem de 127 horas” me despertava uma forte alusão aos diretores Sean Penn e Darren Aronofsky. Imaginei o primeiro realmente dando vida ao ambiente dentro do personagem, como fez com Christopher McCandless em Na Natureza Selvagem e pus na ideia Aronofsky pegando as ilusões de Aron e de fato as colocando a fundo como fez com Sara Goldfarb em Requiem para um Sonho. Porém, não despertou a vontade de ter outro diretor para nos mostrar o dom de infundir seu material com uma energia vibrante e de manter o interesse narrativo através da imagem como faz Danny Boyle. Uma pena oscilar como o deserto, tendo sua imagem a 50°C e sua subjetividade a 0°C.
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127 horas, então, parece ser a combinação perfeita de desafiar o material e os recursos de Boyle que traz uma história de vida com sua abordagem que abre leques a uma profundidade nunca infusa. Danny sempre foi um cineasta vistoso tendo sua própria tendência, mas sua narrativa sempre apresenta a dificuldade de chegar à complexidade que as cenas materialmente aparentam ter. O roteiro de 127 horas” sofre de problemas bem semelhantes ao de Quem quer ser um Milionário? O texto sempre apresenta alguns elementos de situações previsíveis que geram outras ainda mais previstas e que, mesmo que seja filmada de maneira extremamente original e ao estilo visceral da câmera de Boyle, acabam tendo uma subjetividade rasa e que raramente consegue atingir o pico da abstração das cenas.
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O Objeto de Boyle é Aron Ralston (James Franco), um aventureiro de 28 anos de idade que, em 2003, estava caminhando sozinho no Blue John Canyon em Utah, quando escorregou e, posteriormente, encontrou-se no fundo de uma fenda estreita com o seu braço direito preso entre uma pedra solta e as paredes do cânion. O fato é que a maioria das pessoas já conhece o método de fuga de Aron (Aqui um exemplo de Previsão que caminha para mais momentos previsíveis) antes de qualquer coisa. Além disso, O título do filme se refere à quantidade de tempo que ele passou naquela fenda, com pouca comida ou água, resistindo noites de frio e da crescente percepção de que ninguém estava vindo para resgatá-lo. E óbvio que essa percepção cresce para o espectador também, o que anula totalmente a seqüência “CGIzada” da chuva com efeito neutro e dispensável .
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As mesmas características podem ir para os personagens. O espectador não tem a possibilidade de apego nenhum à figura principal, que dirá as demais que passam diante da tela, sem espaço para construção e até mesmo sem coerência com o modo que um personagem se relaciona com o outro. Talvez por isso que a tentativa crucial de Aron para se libertar da pedra é somente visual e não sentimental, o que um equilíbrio entre ambos sensores poderia resultar num momento ainda mais profundo. Ainda assim, há uma tensão como nós esperávamos. Em seus raros momentos de horror, 127 Horas consegue nos prender nessa fenda com Aron e nos faz marcar os minutos e horas até chegar o inevitável. Para deixar o filme dinâmico são usadas as distrações visuais de Boyle pela maneira que ele transforma o sofrimento num estranho conto em que Aron sofre as ilusões nas chamas de sua própria mente que seu espírito transcende a vida e as pessoas com quem compartilhou momentos marcantes.
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Boyle também enfrenta o desafio principal do filme de como preencher as 127 horas, para a monotonia do aprisionamento não transformar o filme em um furo e o refúgio disso é o seu hábito visual, rejeitando a noção do tempo real em favor de uma implacável edição. Com a fotografia nas mãos de Enrique Chediak e Anthony Dod Mantle, às vezes, essa abordagem funciona perfeitamente, com as imagens distorcidas e ângulos inclinados desenhando a desidratação da mente de Aron. Em outros momentos, o filme se foca tanto nisso, que não estabelece fusão com a experiência emocional e espiritual de Aron. Outra curiosidade é como a trilha sonora distorce determinadas situações em algumas cenas, que às vezes esmaga a ação na tela. Em certos momentos de tensão a trilha não coincide com o ato e chegamos a conclusão que visualmente e sonoramente, 127 Horas muitas vezes fica em contradição consigo mesma, competindo por nossa atenção.
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As coisas só não pioram porque Boyle tem um ator magnífico chamado James Franco, cujo desempenho como Aron fornece o coração do filme e mantém seus batimentos. Franco transmite um rapaz convencido, confiante e por isso um tanto imprudente que tem sua confiança testada ao extremo quando ele é preso. E James consegue isso com uma facilidade incrivel, ainda mais convicto em situações de entusiasmo, já que o roteiro não proporciona um drama tão profundo como poderia ter, mas ainda assim a brincadeira com a câmera simulando uma entrevista beira a genialidade.
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O que nem chega perto de ser genial é o momento mais aguardado do filme que só serve para fechar a ausência de abstração que Danny Boyle não consegue passar desde seu ultimo trabalho. Sei que o texto que acabara de ler é cheio de contradições, entre elogios e desleixos de minha parte, mas a perfeição das imagens são incontestáveis, mas se o filme tivesse mais uns dez minutos já estaria me embrulhando o estômago, algo que, numa cena com uma premissa desconcertante não acontece (que é a ultima atitude para sobreviver de Aron). Pode cansar os olhos, mas nunca atingir nosso coração.
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Chego então a conceito de que o filme de Boyle mais uma vez apresenta um cinema muito superficial, num estilo próprio incompleto, que não atende todas as necessidades de uma boa obra e que, por mais que capriche em tantos quesítos ainda falha no roteiro, que pode não ser a alma de todos os filmes, mas aqui senti a necessidade de ter a minha transportada para dentro do Cânion e ficar preso na pedra junto ao personagem.


ロロロ (Filme bom )

Os Perdedores


O Vencedor (The Fighter) 2010

Como inúmeras introduções das criticas que vocês andam lendo, começo também comentando sobre a presença de “O Vencedor” no Oscar. Sabemos que desde 2010 tivemos uma lista com dez filmes lutando pela categoria principal. Com isso, ocorre um maior espaço para filmes de formato mais variado, porém não significando que são dignos de estarem ali, mostrando que mesmo tendo o dobro da oportunidade de não errarem, mesmo assim a academia insiste com suas piadas.
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Na primeira vez surge dentre os dez “Um Sonho Possível”, filme para satisfazer o ego norte americano com seu recurso utópico patriota pra lá de ambicioso. Tudo bem que situações semelhantes aconteceram também em 2009 com a vitória da Novela “Quem quer ser um Milionário?” em que o Oscar entra de vez na era dos tipos de filmes que sempre existiram, mas nunca foram notados e UEPA! Tornam-se os melhores do ano. E isso, por coincidência ou não, se deu após os EUA ter seu primeiro presidente negro, com sua história de superação. E o “pré-conceito” que eu tinha com “O Vencedor” era justamente ligado a toda essa festa estadunidense, julgando-o como privado de qualidades técnicas, mas deu onde todo preconceito se dá: um erro. O filme é bom, minha gente.
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Mas, é claro que David O. Russell se rende a muitas influências no filme que só engrena quando começa a contar a história de Micky Ward, boxeador, que conhece uma garçonete chamada Charlene (Amy Adams). Ela conhece a história e sabe que o problema de Micky é sua família. Sua mãe Alice (Melissa Leo) que vê seus filhos, Micky e Dicky (Mark Wahlberg e Christian Bale) como suportes para suas vaidades, além das outras demais sete filhas que já estão para titias, mas preenchem a sala como crianças. Podem até parecerem personagens estampadas, mas são frutos, talvez, de como o tempo parou para aquela família após o suposto nocaute de Dicky na estrela do boxe Sugar Ray, numa ilusão de Alice por tal feito que carecesse de seu papel materno e entrou de vez na vida de “empresária” de Micky, mas sempre pensando mais em seu outro filho.

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Analisando então a descrição a cima, percebe-se que a história se foca na família do atleta e é graças a esse fator que faz com que o desenvolvimento narrativo passe a ter uma essência que vai além do convencional, mesmo que no final das contas, no ápice da fita, a subjetividade é quase inexpressiva ainda que o estilo semi-documental seja uma boa escolha de David. Em determinado momento do texto, uma carga dramática está sobre o fato de Dicky ter sido enganado por uma rede de Tv, exibindo um documentário sobre a decadência do ex-lutador, ao invés de ser o seu retorno, como todos imaginavam ser. Nesse momento a história conclui a razão introspecta em cada figura que, por mais que tenham seus narizes empinados, a realidade do presente momento é árdua e catastrófica. O que se vê são personagens que não aceitam a condição de que as glorias passadas não sustentam mais o egocentrismo atual de cada um.
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Micky é um protagonista tratado de maneira um tanto diferente por Russell. O personagem acaba sendo desenvolvido quase fora de foco, mas talvez isso seja uma necessidade da narrativa para demonstrar o quanto o lutador está submisso o seu irmão e sua mãe (ou seria uma jogada para fazer Christian Bale e Melissa Leo terem a estatueta em suas estantes?), porém estranhamente quando ele decide seguir por outras influencias (Sim, Micky sempre está sob as ordens de alguém, nesse caso, o de Charlene) esse caráter continua em execução, (o que praticamente me faz ficar com a opção relacionada à jogada do filme). O envolvimento de Charlene com o atleta é uma dos fatores mais vagos que o filme possui. Enquanto acerta na construção de Dicky e Alice, erram na elaboração do relacionamento dos dois, por se mostrar muito ligeiro, num sentimento entre eles que em nenhum momento foi demonstrado tão verdadeiro quanto aparentava ser. Tanto que, quando os dois passam por momentos de tribulação, o espectador nem sente as dores da situação.

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Outra ocasião completamente rasa é a situação deplorável de Dicky, principalmente o fim que ela tem e pior ainda quando o personagem muda de caráter e sai do mundo que vivia e o conceito de tudo é dizer simplesmente que crack não é uma opção de vida. Isso só direcionava ao caráter fácil que a história tanto lutou para não cair, mas inevitavelmente acaba se rendendo, tanto que vemos que o filme termina com um momento que deve ser um triunfo, mas acaba sendo a simples conclusão. O filme é bem fotografado pelo sueco Hoyte Van Hoytema (Do excelente “Deixe ela Entrar”), mas que trabalha de forma completamente diferente graças ao estilo documental do longa. As cenas de lutas são um pouco envergonhadas por sua convencionalidade e a finalização da primeira vitória de Micky é um momento risível que só aumenta a gargalhada a cada replay. Porém, o que faz desses instantes terem emoções exprimidas é a dinâmica de acompanhar os demais atores na platéia, junto a narração. Nisso, conclui-se que David acerta mais fora dos rings do que a cada soco dado em cima do mesmo.
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Sou suspeito para falar de Mark Wahlberg, justamente por nunca ter gostado de seus trabalhos. Acho-o meio inexpressível e artificial e aqui não desfez essa minha impressão, porém não me irritou como chegou a fazer em outros filmes, principalmente em “Fim dos Tempos”. Entretanto, são completamente justas as indicações para os coadjuvantes e qualquer um tem condições de ganhar. Melissa Leo está fantástica, numa atuação que estabelece um diálogo com o espectador a cada gesto. A personagem exige de dureza até falsas lágrimas e a atriz consegue com total maestria. Amy Adams num papel extremamente distinto dos anteriores também está enérgica em suas falas e mantém uma postura de profissional completa. Christian Bale confirma seu favoritismo, num trabalho onde mais uma vez exigiu de uma linguagem física, mas é a cada palavra de sua boca que está a excelência de sua atuação.
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Com um elenco precisamente dedicado as suas funções, sendo este o único quesito de “O Vencedor” se igualar as demais forças no festival este ano, o filme de Russell se mostra competente, conseguindo por vezes fugir das pieguices que davam brechas para o melodrama que imediatamente era contornado por um retrato mais denso da história do lutador e sua família. E, mesmo que as primeiras lutas demonstrem uma artificialidade nítida, a seqüência final é tecnicamente padronizada, mesmo que seja um clímax regular. Entretanto, a vaga para o filme típico estadunidense dessa vez está sendo bem representada, mas ainda não está no momento desse estilo levar a estatueta. Ganhará um dia, quem sabe, quando este tipo deixar de ser reflexo da Era Obama e passar a ser a própria imagem do presidente.

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ロロロ (Filme bom )

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