... Até que fura.



Os Agentes do Destino ( 2011)

Sozinho. Em frente uma janela a meia luz, cabeça baixa e olhar triste. De fronte ao público, uma satisfação egocêntrica, um sorriso vivaz e esperançoso. Nos jornais ele é impulsivo, irracional e violento. Vencido. Primeiro num ambiente espaçoso, como um objeto insignificante em meio ao nada. Depois o espaço diminui: um banheiro masculino com toque feminino nos lábios do homem derrotado. Encontro inconveniente. Causado por Deus, destino ou sorte?

Dentre a interrogação acima, o diretor e roteirista George Nolfi baseado na ficção científica de 1954, do escritor Philip K. Dick, de parecê-la que na dúvida dos três itens questionados, a única certeza é que cada um de nós somos controlados pela grande mão da burocracia. David (Matt Damon), jovem recém derrotado em sua candidatura ao senado, conhece inoportunamente Elise (Emily Blunt), numa atração instantânea através de um jogo rápido de diálogos que logo os levam a um beijo, dando inicio a essa intriga na narrativa. No entanto, existe uma organização secreta que parece composta por homens comuns, mas que passam por um estágio sobrenatural, quando vemos que sua função é garantir que as notas preordenadas pelo denominado (mas, nunca definido) “Presidente” sejam exatamente ministradas.

Um dos fatores mais importantes para o espectador acolher a aura da história é perceber o que talvez demore a ficar claro: “Os Agentes do Destino” se trata de uma história romântica em primeira ocasião, que ressoa dentro das armadilhas da ficção cientifica. Esse aspecto é o que faz o filme de Nolfi dar novos ares a escala de obras que saem recentemente, já que essa borda poética aguça, ao invés de debilitar o romantismo. George consegue abrir vantagem na história já nos momentos iniciais, pois mesmo que o casal deixe a sensação em alguns momentos de um sentimento que parece real, mas em outras situações um mecanismo puro, consegue definir cada personalidade rapidamente. Contudo, o talento de Damon e Blunt se mostra claramente de suma importância para que, num ato tão repentino, a predominância de um espaço vago entre os personagens não se tornasse tão evidente e assim prejudicial ao longa.

Aliado a esse caminho que o roteiro toma estão às respostas convictas e bem explanadas que vão sendo servidas de bandeja ao observador, ainda mais quando percebemos que fatores que antes complexavam nossas mentes, estavam respondidos na figura de Terrence Stamp ou nos chapéus que os agentes usavam. Além disso, é agradável ver que Elise é uma mulher inteligente, sinuosa, de olhar penetrante, franca que faz o protagonista ser tão instintivo, que se torna tão submisso a figura secundária. Falando em submissão, outro dado interessante é o acerto da narrativa desenhar os agentes, canais diretos da ficção em meio a história, como seres de poderio limitado que buscam mais a ação perante as palavras, do que a atribuição sobrenatural. Entretanto, George sabe que só tem a ganhar trazendo efeitos especiais.

A produção não teve muito que se preocupar com os efeitos, isso se deve primeiro pela prioridade que dão ao romance, segundo que a freqüência dos efeitos especiais é pouca, mas de extrema eficiência, feita com nítida tranqüilidade pela edição e filmado com precisão. Outro quesito estético de extrema significância é a fotografia de John Toll que trás a história romântica num aspecto frio, denso e que assim se liga mais as intrigas vividas por Norris, do que a excitação do casal. Colaborando com isso está à expressão sempre fechada de qualquer outro personagem que não sejam os principais, mais o design do figurino ao estilo gângster e o som remixado do Jazz clássico “Fever” de Sarah Vaughan.

Incluso nesse mundo fictício-romântico está também toda uma filosofia, usufruindo dos conceitos do determinismo mais os do livre arbítrio. Além disso, Nolfi também reserva espaços para referências e tons de humor bem leves, mas ainda perceptíveis. Mas, por um instante, de pouco adiantou algumas premissas quando o final mostra que mesmo argumentos fortes podem se tornar contrários as próprias razões, ainda que estejam embalados no mesmo pacote, que acaba se contaminando dentro de seu próprio conceito inteligente.

Entretanto, é sugerido que se releve a brochada que se vê no desfecho. Temos que levar em consideração que “Os Agentes do Destino” consegue ser um thriller romântico que ganha um feito bastante notável, nos colocando junto na busca desenfreada de um jovem pela estabilidade com sua amada. Isso, em meio a toda magia da ficção científica, que é a vilã do amor na história, porém o gênero amigável do roteiro para transformar o que poderia ser um desastre numa das obras mais agradáveis do ano. Respeitando o conceito fantástico do texto de Dick, tratando bem a relação entre o homem e os mistérios da vida, mas totalmente imerso no intimo de seu personagem central, que do oco passou ao preenchimento de um romance inconfundível de duas sensibilidades reunidas num só mundo, mesmo que jogados numa realidade controversa e alucinante, sem deixar de ser um ótimo entretenimento.


ロロ ロ+ (Filme Muito Bom)

Super-Natural


Sobrenatural (Insidious)

Observado a matemática dos tempos em relação às tendências que os filmes de terror vem tomando, aqui em “Sobrenatural” a soma dos criadores da série “Jogos Mortal” (James Wan e Leigh Whannell) mais os responsáveis de “Atividade Paranormal“ (Oren Peli, Steven Schneider e Jason Blum) o resultado é, no mínimo, curioso. Interessante seria, caso o produto não fosse completamente novo apenas para toda a produção, mas também para o público.

O sucesso da série começava em 2004 e fazia iniciar a época do torture porn, sendo “Saw” o pioneiro dessa sede do público em qualquer “história” (irônicas aspas) em que partia para uma violência gráfica mais explicita (Mesmo que o cinema japonês já vinha apresentando essas características antes), mas o subgênero foi perdendo a força e REC, em 2007, passa a ser o principio de um novo momento para o horror através da renovação do recurso “câmera na mão”, que fez com que o trabalho de Oren Peli enfim fosse lançado e conseguisse uma arrecadação acima de cem milhões de dólares, dois anos depois do trabalho já concretizado, mas sem distribuidora interessada, por culpa da propensão que James Wan fazia a seu modelo.

Sendo assim, os dois representantes que fizeram mágicas com seus filmes na década passada, transformando mil em milhões, estão juntos em “Sobrenatural”, obra de caráter totalmente atípico dos trabalhos que os fizeram conhecidos em meio ao público. Aqui, após um menino entrar num inexplicável coma, uma família começa a passar por constantes experiências fora das leis naturais e passam a mudar de casa, tentando escapar dessa situação perturbadora.

A partir disso, só podemos inferir que o diretor James Wan e roteirista Leigh Whannell admiram todos os tipos de medo a partir de “Sobrenatural”, deixando este trabalho então num ponto intermediário e até certa parte se mostra eficaz entre esses extremos, deixando de tentar retesar o público por violência gráfica e passando a usar mais das técnicas sonoras. Evitando tanto videocam , na baixa resolução estética,quanto o gore vicioso que Wan ajudou a popular. Ainda assim, não deixam de ter em mãos apetrechos narrativos difíceis de não cair na mesmice, mas quando é para sermos confrontados, as regras se tornam transcendes ao conhecimento do gênero e nos faz sentir que estamos presenciando algo impar, coisa que não acontece aqui, porém o filme consegue apoio na pericia de suas técnicas.

Consciente de sua estrutura batida é nítido o desempenho do roteiro ao tentar ao menos uma atmosfera densa e capaz de assim obter uma capacidade sensorial, que obtêm sucesso nas cenas direcionadas a um proporcional grau de tensão. E as coisas se tornam ainda melhor quando Wan vai apresentando ao espectador uma estética decididamente retro, a principio designada pela trilha sonora arrepiante que nos leva aos clássicos dos anos oitenta, perfeitamente orquestrada junto à atmosfera eficaz. Entretanto, “Sobrenatural” recebe a opção de direcionar-se para outro caminho, para fazer deste uma série de distribuições de referências a clássicos e é onde a estética barroca passa a sobrepor-se diante da construção da tensão e o filme começa a decair por trocar de isca.

Acaba sendo até mesmo irônico ver que o longa optou por um caminho decente, envolto de um perfeito visual freak-outs, em aspectos antiquados que provocam lembranças relacionadas a casa mal-assombrada e a thrillers paranóicos. Ainda que bem atuado e fotografado na frieza de John R. Leonetti e M. David Brewer, que traz uma iluminação enraizada do gênero, por mais que referenciem caprichosamente Horror em Amityville (1979), Don't Look Now (1973) e Poltergeist – O Fenômeno (1982),tendo este ultimo lembrado até mesmo através da câmera itinerante e pelo design de som criativo e, mesmo com toda essa bagagem, se torna pouco subjetivo.

Contudo, quando os paranormais adentram a narrativa, o caminho que James Wan opta pegar é extremamente distinto, mostrando uma mudança muito brusca na aura que permeia até metade do filme. É quando a inspiração óbvia de “Poltergeist “ cruza para “Os Caça-Fantasmas” (1984) e “Sobrenatural” acaba saindo dos trilhos, já que por mais que saibamos a existência de Whannell e Sampson (Claros objetos referenciais) não anula a sensação de pertencerem a um outro universo que não o que a história cria.E, por mais que o arranjo musical sirva como um prenúncio do estilo do terror que estaria por vir, todos os membros da produção não conseguem demonstrar tanta firmeza ao trabalhar com as décadas antigas, como tiveram a “sorte” (no ápice da palavra) de trabalhar na passada.

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ロロ (Filme Bom)

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