O Refúgio na imaginação
Vou ser sincero com vocês, caríssimos leitores: eu iria postar um texto sobre “Coraline e o Mundo Secreto”, depois faria uma analogia com o livro da Lygia Bojunga, chamado “A Bolsa Amarela”, porém sábado eu assisti o ótimo “A menina no País das Maravilhas” e me remeteu a “O Labirinto do Fauno” e vi que todos iriam de encontro a uma perspectiva: o infantil se desvirtuando da realidade para salvar-se na fantasia.
Desde o principio acompanhei a forte semelhança de “Coraline” com “Raquel”, personagem do livro “A Bolsa Amarela” de 1976, escrito por Lygia Bojunga (1932) pelo embate da figura com seu próprio mundo e com sua família em que a estipulação de que a vontade da criança fica em segundo plano e assim refletindo as correntezas que direcionam as suas imaginações que constroem o fantástico da obra.
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Mesmo que Raquel, no livro, faça da bolsa o seu mundo e que Coraline, no filme, apenas atravesse uma pequena porta para fazer o “Fictício”, as similaridades se desprendem quando o diretor Henry Selick (O Estranho Mundo de Jack) faz do Fantástico cheio de maravilhas, beleza e magia que é usado no começo, sofrer uma transformação repentina do belo para o obscuro (mas ainda belo, é claro) onde flerta o lado sombrio da imaginação de Coraline.
A partir dessa modificação de ares que Selick faz nessa adaptação do livro de Neil Gaiman, é que o filme definitivamente estagna o espectador, seja ele infantil ou não, e faz com que este tenha vontade que a personagem saia daquele mundo obscuro e volte para o real, mesmo que essa realidade na introdução era tratada de forma com que Coraline e o observador rejeitavam e preferia testemunhar o outro lado da porta. O lado da imaginação.
“Coraline e o mundo secreto volta” a assemelhar-se com “A Bolsa Amarela” quando o real e o fantástico apresentam suas respostas ( Algo parecido com “O Labirinto do fauno”) e assim a alegoria faz com que Coraline tenha sua declaração da verdade sobre a impossibilidade de viver no mundo onde tudo aparenta estar perfeito, onde todas as nossas vontades acontecem.
Em “Preciosa – Uma história de esperança” mesmo que seja uma adolescente, buscar o que ela busca através de suas imaginações é algo do universo infantil. Esse é o refúgio de quem não enxerga esperança ou expectativa de vida e felicidade na realidade ao qual ela vive. E por isso que vemos uma criança buscando ilusões para sair de si mesma e partir para outro mundo que não habita nela ou em canto algum. Porém, aqui Precious tem suas imaginações já conhecendo a realidade, ao contrário dos demais personagens aqui citados.
Na obra-prima e, para mim, no melhor filme da década “O Labirinto do Fauno” a figura de Ofélia está em carne em plena guerra civil espanhola sendo enteada de Francisco Franco, um general fascista e convivendo com o sofrimento de sua mãe, porém sua imaginação flui numa guerra entre realidade e imaginação em tamanha profundidade estabelecida por Guillermo Del toro ao descobrir da figura mítica do fauno. Para essa personagem, ela está presa num mundo de humanos, enquanto o lado verdadeiro da história está na fantasia: embora enfrente monstros tenebrosos, ninguém para ela é mais temível do que o seu cruel padrasto e então se conclui a força da realidade diante da fantasia de maneira dolorosa, ao contrário de Coraline, Raquel e Phoebe de “A Menina do país das Maravilhas”.
A menina Phoebe tem o costume de dizer absolutamente tudo que lhe vem à cabeça. E , por isso, sua vida social e familiar começam a encontrar barreiras, pois Phoebe é uma menina extremamente inteligente, impulsiva e bem menos conformada e reservada que uma nação inteira e com isso acaba sofrendo conseqüências principalmente na escola, tanto com os colegas de classe quanto com o diretor. Portanto, o que a menina mais quer é lugar de livre expressão e é isso que ela encontra viajando em seu mundo imaginário, onde tem visões de personagens do conto de “Alice” em embates sobre o que aquilo quer dizer. Em suma, diria até que essa imaginação de Phoebe mudaria um planeta.
Entretanto, é mais saudável buscar refúgios em mundos imaginários do que na realidade viciante que ronda o mundo com seus prazeres instantâneos que conceituam uma mentira que se torna verdade para um escravo dessas tentações.
Onde você busca o seu?
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Coraline e o Mundo Secreto ロロロロ(Filme Ótimo)
Preciosa - Uma História de esperança ロロロ(Filme Bom)
O Labirinto do Fauno ロロロロロ(Filme Excelente)
A Menina no Pais das Maravilhas ロロロ+ (Filme Muito Bom)
noooosssaa mto bom msm Alyson, parabensss...
Eu busco refúgio no cinema e na música!
Alyson, parabéns pelo brilhante texto!
MIK, obrigado pelo elogio e pela visita principalmente. Beijos!
KAMILA, ainda bem que buscamos em coisas boas. As vezes o refúgio do Ser Humano é tão indigesto e sem frutos, mas a arte nos liberta disso. Só digo apenas que o vicio em filmes pode interferir no convivio social, resultando na solidão. Conheço casos assim. Beijos!
O meu?
No cinema, a conhecida "arte da ilusão" =)
Parabéns pelo texto, Alyson. Gostei dessa junção que você fez com os filmes. Não assisti a "A Menina no País das Maravilhas", mas quando assisti ao ótimo "Coraline", foi inevitável não remeter ao excepcional "O Labirinto do Fauno", não apenas pela história, mas pela estética muito bem trabalhada. São dois grandes filmes!
P.S. Ah, só fiz o primeiro ano no Drummond, depois me mudei para o Nobel =)
não estudamos juntos mesmo...Sim, é essa Karen mesmo. Quando vier pra cá, dê um toque, sim!
ABS!
Nossa! Muito boa a análise realmente. Isso daria um bom tema de monografia. Quanto aos filmes, só vi o do Fauno e acho lindo! Beijão!
Sinceamente, seu melhor post aqui. Muito bem escrito e gostei da relação analítica entre os bons filmes. Sua percepção mostra como esses filmes apresentam personagens que buscam o consolo no imaginário pra escapar da crueldade de vida...
Eu? eu busco meu imaginário quando eu leio, ou mesmo quando vejo um filme que me ajude a refletir a própria vida ou mesmo quando eu escrevo um texto intimo...
Parabéns pela composição aqui, Alyson!
Abraço
CRISTIANO, Obrigado! E , pelo jeito, o refúgio de todos está na arte, como um todo. Abraços!
Esse Coraline não é baseado no álbum em quadrinhos do Neil Gaiman? Eu li a revista, o filme ainda não conferi, mas muitos colegas meus elogiaram.
Amei Preciosa, um dos filmes mais corajosos do ano. Lee Daniels merece meu respeito e atenção no aguardo por futuros projetos.
Saí um pouco decepcionado com o novo filme do Tim Burton (porém, achei escandalosa a estética que ela proporcionou. O cara é um mago da imagem). Já o Labirinto de Fauno é realmente uma pequena obra-prima. Fico imaginando o que esperar de O Hobbit, que o Del Toro irá filmar.
Cultura? O lugar é aqui:
http://culturaexmachina.blogspot.com
Preciso dizer mais uma vez que vc
está de parabéns, excelentes textos, ótimas considerações analíticas, bom eu como vc já sabe busco refúgio escrevendo alguma coisa que se compare com nossa triste realidade...e o desejo de um mundo melhor para todos!
Vc é um gênioooooo,muitoo bom mesmo seus textos, continue assim.
um abraço teh+
PSEUDO, eu estou O Hobbit já pensando na adaptação. Sou fã do Del toro. Abraços!
BEATRIS, Que isso! Muito obrigado! Sim, pensamos num mundo melhor pedindo ao Divino e politicamente através da educação. Abraços! Té mais!
Primeiro parabéns pelo novo layout, está muito bonito. O seu texto tbm ficou elíssimo, falou com propriedade sobre a imaginação que é algo que particularmente me fascina no mundo do cinema.
Muito bom seu texto, bem interessante. E eu ainda preciso ver "A Menina no País das Maravilhas". Já os outros três gosto muito, especialmente "O Labirinto do Fauno", magnífico.
ROBSON, Obrigado! E eu também me encanto com o universo enigmáico da infancia.
WALLY, Obrigado! E Labirinto do Fauno é esplendido, realmente.
A arte é o meu refúgio. Hoje e sempre.
Ótimo texto, meu amigo.
Concordo com as cotações que deu aos filmes.
Abraços
O labirinto do Fauno é realmente espetacular. Misturando história (franquismo) e conto de fadas, o clima torna-se mais denso do que o próprio título a princípio, que nos remete a pensar que o filme é somente conto de fadas. É estranho, ainda, ver uma cena neste filme, quando um senhor tem o rosto amassado por uma garrafa. Fiquei com essa imagem um bom tempo.
ótimo texto
abraço