A Fita Branca, de Michael Haneke (2009)


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Não lembro quem dizia que a violência está dentro de cada um de nós. Mas é. Ninguém é privado de um sentimento que surge do instinto e que é exposto de forma agressiva, seja física, mental ou até mesmo através de gestos sólidos. Agir sem o extinto é o que difere você da carne ao qual você se alimenta. Michael Haneke adora se aprofundar nas entrelinhas dos mais estranhos sentimentos humanos, principalmente quando chega perto de ser desumano. É a idéia de Michael sobre a nossa pele. Exposta numa luminosa pintura em preto e branco retratado em choques constantes. É entorpecente. É perturbador. É Haneke.
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O elenco ajuda na conclusão dessa obra-prima, assim como a fotografia. Mas, nada é tão forte quanto o argumento e suas situações e a exploração de suas figuras. O filme é sobre a corrupção da inocência e como aqueles que fomentam a corrupção, como pode colher os frutos desse horror trabalhado pelo próprio ego. “A Fita branca” também argumenta que a "justiça" pode ser pouco mais do que um manto de disfarce - alguns dos indivíduos aparentemente mais retos são aqueles com o mais profundo dessecação moral. Por que nos surpreenderíamos com certas atitudes, sendo que o que vem do homem, nada mais nos surpreende?
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Haneke também não trata de estereótipos unidimensionais. Com isso, os personagens são as fontes de onde saem às podridões subjacentes das pessoas locais do vilarejo, aparentemente bem orientadas e plácidas, mas o diretor é implacável em ilustrar os elementos contraditórios evidentes em seus bonecos: O Pastor está tão preocupado com a saúde espiritual de seus filhos, enquanto as tendências anti-sociais de sua filha são rotineiramente ignoradas. O médico, que é gentil com seus pacientes, e o Barão, apesar de sua generosidade na vila, mostra-se insensível e sem escrúpulos.
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O interessante é que Haneke não fornece todos os significados das reflexões que devem ser tiradas dos personagens com facilidade. É tudo delineado e dedutivo. Não há uma solução limpa, apenas possibilidades, deixando para o espectador ligar os pontos. Mesmo quando há alguns personagens onde a evidencia é maior no envolvimento com os atos. E esse domínio está todo amarrado numa narrativa densa e precisa: Haneke cria um ritmo deliberado, retardando o ritmo narrativo. Assim como em Violência Gratuita, pegamos momentos em que a câmera não se movimenta, mas muita coisa acontece, até quando somos vetados de certas ações.
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Ao término da rodagem vemos um filme arte por excelência: delineado, exigente, disposto a ter o espectador como um racional, motivado a decifrar tantas ambigüidades.
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Ele realmente não cansa de fazer obras-primas.
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ロロ (Filme Excelente)

9 Response to "A Fita Branca, de Michael Haneke (2009)"

  1. Wally says:

    Muito boa sua crítica e concordo com tudo. Magnífica obra-prima do Haneke.

    É a cara do Haneke. Muita gente reclamou, xingou, falou mal do uso das crianças nesse tipo de filme, mas é ótimo! Uma pena que o Oscar não reconheceu (o que não significa que O Segredo dos Seus Olhos seja ruim. Muito pelo contrário...)

    Cultura? o lugar é aqui:
    http://culturaexmachina.blogspot.com

    Kamila says:

    Tô doida para conferir "A Fita Branca". Só tenho lido elogios sobre a obra.

    Um filme explosivo de Haneke, me parece ser essa a configuraçao final do que acharam do filme. Otima dica, preciso MESMO ver.

    Foi minha primeira experiência com Haneke. Achei super válido. Esse filme tem características que o tornam único. Achei tudo muito brilhante ainda que prefira o argentino O Segredo dos Seus Olhos. Pena que concorreram no mesmo ano!

    Um filme marcante, crucial!

    Sem dúvida mais uma obra-prima do Haneke ...

    Este comentário foi removido pelo autor.

    Muito bom, as conclusão são
    ótimas... inesperadas

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