Violência Gratuita ( Funny Games - 2008 )
“ Abane a cabeça, leitor; faça todos os gestos de incredulidade. Chegue a deitar fora este livro, se o tédio já o não obrigou a isso antes; tudo é possível. Mas, se o não fez antes e só agora, fio que me tome a pegar do livro e que o abra na mesma página, sem crer por isso na veracidade do autor.
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Machado de Assis,
Em “Dom Casmurro”
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As “estranhas”, e tão questionadas, conversas dos personagens de “Violência Gratuita” com a câmera que direciona ao espectador fazem um filme metalingüístico. Ou seja, uma comunicação direta entre o autor e o leitor, no caso o roteirista Michael Haneke e você, mera testemunha. Machado de Assis e Michael Haneke usaram desse arbítrio para interagir com o público, porém enquanto Assis fazia isso para fazer o observador sentir-se acomodado o diretor austríaco faz totalmente o oposto.
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Depois da pouca amplitude da versão original no mercado cinematográfico, o diretor Michael Haneke repete a mesma obra-prima, passado seus onze anos, agora
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Para Haneke, o espectador existe para ser confrontado. Por isso, seus jogos de cinismo e provocações perturbam alguns desavisados desse “game” chamado “Manipulação”. Outro quesito que decepciona certo público é a busca de um sensacionalismo visual mais violento (ainda mais com o nome que ganhou no Brasil), mas se perdem numa opressão psicológica mostrada da maneira que Michael mais sabe mostrar: o sofrimento da vitima. Não precisando de sangue ou ações mirabolantes para isso. Além de sua câmera sempre intacta em que limita o espaço para o espectador, tornando-se assim um lugar inseguro para o mesmo. Muito semelhante com algo que vimos há seis décadas com Hitchcock, em “Festim Diabólico”.
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A famosa cena do controle remoto é audaciosa. Enquanto ela ganha alguns fãs, para outras pessoas se torna uma abominação. Antes dela tivemos a metalinguagem de Haneke ao por seus personagens em conversas com a câmera, em que diziam respectivas perguntas sobre o que o público queria realmente ver, sendo assim essa polêmica parte é mais uma em que o diretor mostra que o que queremos (que os vilões se dêem mal) não irá acontecer, mas sim o que ele quer que é nos deixar contrariados. Portanto, rebobinou a fita...
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E para quem torce pelos vilões?
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É só olhar o nome do filme. Para quem torcer pelos descarados jogos feitos pelos assassinos, e assim seja vencido por eles, tudo se torna um “Funny Game”.
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Depois de tentar expor toda a minha boa admiração, por algo que me fez sentir mal, fecho com as palavras desse audaz diretor, sobre este filme: “Eu acredito que o espectador fundamentalmente seja mais inteligente do que a maioria, e para dar-lhe crédito você precisa dá a ele a oportunidade de usar o cérebro.
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Alyson, mais uma vez postamos o mesmo filme na mesma época e diferente do que foi a nossa divergencia de opiniões na ocasião passada no caso de "Um Beijo Roubado", concordo plenamente com a sua crítica.
Talvez o que mais tenha me chamado atenção no texto foi a comparação da execução de obras entre Michael Haneke e Machado de Assis, que definitivamente fazem sentido, apesar de ambas seguirem caminhos opostos na manipulação para com o leitor/ espectador.
Parabéns pela critica, você é um dos poucos que apreciou o filme levando em consideração seu contexto sutil, continue escrevendo.
Abraço!
Muito interessante ler aqui uma opinião tão positiva quanto a sua depois de passar no Blog do Vinícius e ler uma extremamente negativa. Adoro filmes polêmicos porque, normalmente, eu acabo ficando do lado dos que gostaram. Mas, antes, vou procurar ver o filme original.
Ciao!
Sinceramente, não sei o que pensar sobre este remake. Parece que ele é um daqueles filmes do tipo ame ou odeie. Como não assisti ao filme original ou a este remake ainda, veremos de que lado eu me posiciono. :-)
KAMILA,
Eu já acho que o filme é : entenda-o ou ignore-o
Devo ir conferir no cinema esse fim de semana. Gosto da maneira como a mente do Haneke funciona. E o Michael Pitt, quando quer, faz um grande cinema. A Premissa do roteiro é ótima!
Mídia? Cultura?
http://robertoqueiroz.wordpress.com
Eu gostei dos filmes do Haneke que assisti, todos muito estranhos: Caché, A professora de Piano e Código Desconhecido. Ainda não vi Funny Games e esse remake, mas quero muito fazer isso.
Naomi Watts sabe ser uma exímia atriz, mesmo quando o personagem não precisa, ela mostra todo o seu brilho e sua competência, fato marcante de todos os atores australianos.
opa cara, achei seu blog agora, é realmente muito bom
esse filme me despeta muita curiosidade
não sou nenhum grande conheçedor da carreira do haneke e nem vi tanto o seu filme original quanto o remake, mas pretendo e o mais rápido possível