
O Vencedor (The Fighter) 2010
Como inúmeras introduções das criticas que vocês andam lendo, começo também comentando sobre a presença de “O Vencedor” no Oscar. Sabemos que desde 2010 tivemos uma lista com dez filmes lutando pela categoria principal. Com isso, ocorre um maior espaço para filmes de formato mais variado, porém não significando que são dignos de estarem ali, mostrando que mesmo tendo o dobro da oportunidade de não errarem, mesmo assim a academia insiste com suas piadas.
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Na primeira vez surge dentre os dez “Um Sonho Possível”, filme para satisfazer o ego norte americano com seu recurso utópico patriota pra lá de ambicioso. Tudo bem que situações semelhantes aconteceram também em 2009 com a vitória da Novela “Quem quer ser um Milionário?” em que o Oscar entra de vez na era dos tipos de filmes que sempre existiram, mas nunca foram notados e UEPA! Tornam-se os melhores do ano. E isso, por coincidência ou não, se deu após os EUA ter seu primeiro presidente negro, com sua história de superação. E o “pré-conceito” que eu tinha com “O Vencedor” era justamente ligado a toda essa festa estadunidense, julgando-o como privado de qualidades técnicas, mas deu onde todo preconceito se dá: um erro. O filme é bom, minha gente.
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Mas, é claro que David O. Russell se rende a muitas influências no filme que só engrena quando começa a contar a história de Micky Ward, boxeador, que conhece uma garçonete chamada Charlene (Amy Adams). Ela conhece a história e sabe que o problema de Micky é sua família. Sua mãe Alice (Melissa Leo) que vê seus filhos, Micky e Dicky (Mark Wahlberg e Christian Bale) como suportes para suas vaidades, além das outras demais sete filhas que já estão para titias, mas preenchem a sala como crianças. Podem até parecerem personagens estampadas, mas são frutos, talvez, de como o tempo parou para aquela família após o suposto nocaute de Dicky na estrela do boxe Sugar Ray, numa ilusão de Alice por tal feito que carecesse de seu papel materno e entrou de vez na vida de “empresária” de Micky, mas sempre pensando mais em seu outro filho.
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Analisando então a descrição a cima, percebe-se que a história se foca na família do atleta e é graças a esse fator que faz com que o desenvolvimento narrativo passe a ter uma essência que vai além do convencional, mesmo que no final das contas, no ápice da fita, a subjetividade é quase inexpressiva ainda que o estilo semi-documental seja uma boa escolha de David. Em determinado momento do texto, uma carga dramática está sobre o fato de Dicky ter sido enganado por uma rede de Tv, exibindo um documentário sobre a decadência do ex-lutador, ao invés de ser o seu retorno, como todos imaginavam ser. Nesse momento a história conclui a razão introspecta em cada figura que, por mais que tenham seus narizes empinados, a realidade do presente momento é árdua e catastrófica. O que se vê são personagens que não aceitam a condição de que as glorias passadas não sustentam mais o egocentrismo atual de cada um.
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Micky é um protagonista tratado de maneira um tanto diferente por Russell. O personagem acaba sendo desenvolvido quase fora de foco, mas talvez isso seja uma necessidade da narrativa para demonstrar o quanto o lutador está submisso o seu irmão e sua mãe (ou seria uma jogada para fazer Christian Bale e Melissa Leo terem a estatueta em suas estantes?), porém estranhamente quando ele decide seguir por outras influencias (Sim, Micky sempre está sob as ordens de alguém, nesse caso, o de Charlene) esse caráter continua em execução, (o que praticamente me faz ficar com a opção relacionada à jogada do filme). O envolvimento de Charlene com o atleta é uma dos fatores mais vagos que o filme possui. Enquanto acerta na construção de Dicky e Alice, erram na elaboração do relacionamento dos dois, por se mostrar muito ligeiro, num sentimento entre eles que em nenhum momento foi demonstrado tão verdadeiro quanto aparentava ser. Tanto que, quando os dois passam por momentos de tribulação, o espectador nem sente as dores da situação.
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Outra ocasião completamente rasa é a situação deplorável de Dicky, principalmente o fim que ela tem e pior ainda quando o personagem muda de caráter e sai do mundo que vivia e o conceito de tudo é dizer simplesmente que crack não é uma opção de vida. Isso só direcionava ao caráter fácil que a história tanto lutou para não cair, mas inevitavelmente acaba se rendendo, tanto que vemos que o filme termina com um momento que deve ser um triunfo, mas acaba sendo a simples conclusão. O filme é bem fotografado pelo sueco Hoyte Van Hoytema (Do excelente “Deixe ela Entrar”), mas que trabalha de forma completamente diferente graças ao estilo documental do longa. As cenas de lutas são um pouco envergonhadas por sua convencionalidade e a finalização da primeira vitória de Micky é um momento risível que só aumenta a gargalhada a cada replay. Porém, o que faz desses instantes terem emoções exprimidas é a dinâmica de acompanhar os demais atores na platéia, junto a narração. Nisso, conclui-se que David acerta mais fora dos rings do que a cada soco dado em cima do mesmo.
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Sou suspeito para falar de Mark Wahlberg, justamente por nunca ter gostado de seus trabalhos. Acho-o meio inexpressível e artificial e aqui não desfez essa minha impressão, porém não me irritou como chegou a fazer em outros filmes, principalmente em “Fim dos Tempos”. Entretanto, são completamente justas as indicações para os coadjuvantes e qualquer um tem condições de ganhar. Melissa Leo está fantástica, numa atuação que estabelece um diálogo com o espectador a cada gesto. A personagem exige de dureza até falsas lágrimas e a atriz consegue com total maestria. Amy Adams num papel extremamente distinto dos anteriores também está enérgica em suas falas e mantém uma postura de profissional completa. Christian Bale confirma seu favoritismo, num trabalho onde mais uma vez exigiu de uma linguagem física, mas é a cada palavra de sua boca que está a excelência de sua atuação.
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Com um elenco precisamente dedicado as suas funções, sendo este o único quesito de “O Vencedor” se igualar as demais forças no festival este ano, o filme de Russell se mostra competente, conseguindo por vezes fugir das pieguices que davam brechas para o melodrama que imediatamente era contornado por um retrato mais denso da história do lutador e sua família. E, mesmo que as primeiras lutas demonstrem uma artificialidade nítida, a seqüência final é tecnicamente padronizada, mesmo que seja um clímax regular. Entretanto, a vaga para o filme típico estadunidense dessa vez está sendo bem representada, mas ainda não está no momento desse estilo levar a estatueta. Ganhará um dia, quem sabe, quando este tipo deixar de ser reflexo da Era Obama e passar a ser a própria imagem do presidente.
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ロロロ (Filme bom )