Na Natureza Selvagem

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Busca ou fulga?
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Nessa adaptação da biografia escrita por Jon Krakauer, o diretor e roteirista Senn Penn parece não define o que o seu personagem está realmente fazendo: buscando realmente conhecer a natureza e desfrutar da liberdade que ele inventou ou fugindo de si mesmo para deixar de lado todos os problemas que sua vida tem e que foram emersas entre quatro paredes? Chris predomina a crença de que temos que viver coletivamente ou “sociedade, espero que estejas bem sem mim”? Para um lado ou para o outro, “Na Natureza Selvagem” é um filme que leva ao espectador os questionamentos sobre a vida que passou, a que estamos vivendo e a que passaremos a viver.
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Juntos, Sean Penn e o diretor de fotografia Eric Gautier (Que também fotografou “Diários de Motocicleta”) fazem das paisagens em alguns momentos áridas por outras tão frias, como as situações vividas por “Supertramp”, apresentando uma naturalidade que nos deixa uma impressão paradisíaca. Ou a trilha sonora tão viciante na voz de Eddie Vedder, com letras que não se distanciam de algumas frases tão exultantes que ouvimos das vozes em “Off” seja da irmã de Chris (Jena Malone ) ou dele mesmo.
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Essa fuga irrevogável de Chris é compreensiva quando olhamos que não vale a pena estar num lugar onde não se é feliz ou quando tem um propósito e é contestado através de seus dissipados pais. Porém outros (assim como para os McCandless também) devem pensar que isso não se passa de uma ilusão, pelos perigos alheios ( as leis da natureza) ou particulares (necessidades físicas e emocionais) e vir causar incidentes que podem lhe causar a vida e o sofrimento de quem o colocou no mundo, desde que seus pais se arrependam de todas as atitudes desnaturadas que vieram a fazer. Tanto que o sentimento de arrependimento se torna tão forte, na ultima tomada, que as lágrimas vêm com a mesma intensidade.
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Até certo momento do filme, Christopher julga a sociedade como seres inúteis, a mentira em vida, isso tirado da mente de um Leo tolstoi, Thoreau e Jack London. Mas, seus momentos de solidão, curiosamente, refletem más lembranças vividas dentro de casa, resultando em alguns momentos de tristeza diferente de quanto esteve acompanhado dos celestes Jan e Rainey (Catherine Keener e Brian Dierker) do malandro Wayne (Vince Vaughn) e do simpático e solitário Ron (Hal Holbrook). Talvez por isso, acontece uma mudança no conceito de Chris (incoerência?) sobre a felicidade – ...Natureza, livros, músicas, amar o próximo e então, acima de tudo, você como parceria. E, quem sabe, filhos... O que mais um coração de um homem pode desejar?
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No final das contas, tudo o que ocorreu poderia ser evitado se não fosse às vontades frustradas de tentar preencher o vazio que encontrava dentro de cada um, independente das escolhas e do destino. Mas, uma coisa é certa: Felicidade não existe sem ter com quem dividi-la.
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“Onde dois ou mais estiverem reunidos em meu nome, Eu estarei no meio deles"
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A primeira vez que vi, tive a impressão de que Chris estava coberto de razão em buscar sua felicidade - do que adianta viver onde não se é feliz, não? – sua maneira de viver buscando conhecer cada pedaço do mundo, em especial o mundo particular. Vejo um pouco de Bob Marley em Supertramp: “É melhor atirar-se à luta em busca de dias melhores, mesmo correndo o risco de perder tudo, do que permanecer estático como as pessoas pobres de espírito”... Mas, numa segunda visita ao filme, não só compreendi as razões de Chris em suas aventuras, como também senti a dor de seus pais em não terem noticia de seu filho (principalmente se esquecermos o que faziam antes de Christopher sumir) passando a observá-los pagando caro pelos seus erros.
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Essa falta de concretização definitiva do objetivo de Chris , que Sean Penn deixa, é o que deixa algumas visões distantes uma das outras. Há momentos em que o diretor parece mostrar que o personagem não tinha outra escapatória a não ser distanciar-se de seus problemáticos pais (Como a utilização de flashes de brigas do casal), mas em outros momentos nos da à esperança de mudança na mente dos McCandless de que estariam dispostos a uma nova vida (A famosa frase de que quando perdemos ou distanciamos de alguém é que damos valor - aliás, o filme tem alguns tons didáticos que podem incomodar alguns).
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O filme não possui aquele tom meloso e se difere de outros justamente por essa incerteza sobre do que Chris está fugindo. O final pesado aumenta ainda mais a impressão de que o garoto deveria repensar seus conceitos sobre a sociedade (que foi criada através dos personagens de seus livros, como dito por sua irmã) que pode ser tão bela quanto às paisagens que ele vivenciou.
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Ainda mais quando temos closes de seus pais angustiados esperando por ele, não exatamente para contestá-lo, mas sim para pedir-lhe perdão,...
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ATENÇÃO: SPOILER
... porém essa tomada se torna – ao menos para mim - o tom mais belo e emocionante da história. A culpa ficará com eles (Como conviver com a culpa durante o resto da vida?), enquanto Chris também tem seus erros nessas suas aventuras.
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Cotação: ³ ³ ³ ³ ³ (Filme excelente)

10 Response to "Na Natureza Selvagem"

  1. Anônimo says:

    Nossa!!
    Já li várias criticas e artigos sobre o filme, mas nenhuma ficou tão boa quanto a sua!! Que autópsia, hein?! Parabéns. E, realmente, é um excelente filme.

    Olha, eu acho este filme um espetáculo!!!!! É uma vergonha não vê-lo nas categorias principais do Oscar passado. Tudo nele funciona, é impressionante!

    Abs!

    É LINDO, esse filme! Ele me emocionou do início ao fim! Simplesmente perfeito!

    Em pensar que a Academia deixou esse filmaço de fora para colocar Conduta de Risco, Juno e Desejo e Reparação!

    Uma obra-prima de primeira de Sean Penn, assim como o Kau disse, gostaria muito de ter visto Emile Hirsh, na categoria principal, mas ...

    Anônimo says:

    Gosto de "Na Natureza Selvagem", mas estranhamente não me senti tão emocionado quanto a maioria das pessoas...

    Anônimo says:

    Alyson, muito bom o seu texto. Muitas de suas colocações me perseguiram enquanto via a viagem do personagem de Emile Hirsch e talvez por isso eu não tenha conseguido gostar muito do filme. Na minha opinião, a atitude do personagem se torna muito infantil quando ele decide por alongá-la. Está certo que ele abandonou tudo por uma vida de liberdade e de paixão por uma vida sem frustrações, mas nota-se certa falta de amadurecimento pelo fato de nem ao menos se importar com a possível preocupação que toda a sua família devia estar sentindo. E isto também se reflete na minha opinião sobre o Christopher da vida real.

    Anônimo says:

    Esse filme é o último dos que coloquei na minha lista de filmes que eu mais gosto. Não é necessariamente um clássico, mas o filme deixa seu recado. E a crítica está execelente mesmo .

    Anônimo says:

    Alyson, curioso é que lendo seu texto imaginei que você não tinha gostado tanto assim do filme... :-)

    Eu adorei "Na Natureza Selvagem". Foi, aliás, o meu filme favorito de 2007. Acho uma história bonita de alguém que tentou ser diferente, buscar algo distinto em sua vida, um caminho que a gente pode até não compreender. É uma história, assim, carregada de inocência e de ingenuidade - e é isto que me surpreende mais neste belo trabalho do Sean Penn.

    Anônimo says:
    Este comentário foi removido pelo autor.
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