Meu Falso Poema

Palavra Encantada (2009)

A partir da reflexão da relação entre a música popular e a poesia e literatura, o documentário usa depoimentos, performances musicais e trilha sonora a fim de esclarecer e refletir sobre o assunto. O filme apresentará imagens inéditas no Brasil, como a encenação de Morte e Vida Severina, de João Cabral de Mello Neto, no Festival de Teatro Universitário de Nancy, na França, em 1966. Merecem destaque também imagens raras, que foram restauradas pela produção do filme, de Dorival Caymmi, nos anos 40, cantando e tocando O Mar ao violão.

Gênero: Documentário Direção: Helena Solberg



Descobri que Palavra Encantada é encantada

Sem querer ser encantada

Se é que era, mas pra mim é,

Mesmo que para o autor não fosse.

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Descobri que musica nem sempre é projetada,

Mas sim rimada, cantada e desafiada.

Um desafio a si mesmo ou uma batalha a outrem.

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Descobri que “Repente” perdeu o “ente”

Sobrou o “Rép” que é o presente.

Rap não é sobra, é obra.

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Ouvi poetas, vi músicos

E percebi que tudo é o que vivi

Sem poemas e sem musicalidade,

Enquanto para mim era utilidade.

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Hoje música é carnal e não encarna em mim

Antes era espiritual e em mim fica: Tom Zé explica.

Vi Helena num aprofundamento de vidas arquivadas no esquecimento.

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Ouvi riqueza na boca de pobre

E pobreza na boca de rico: triste regozijo.

A política real é a da arte: você é pelo o que você faz,

Não importa quantos votos no bolso você traz.

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Aprendi coisas de outro mundo com Alien,

Tive idéias clariadas por Bnegão.

Vi músicas das cidades, das ruas, do Martinho da vila.

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Descobri, aprendi, vi, senti!

Em suma, é arte absorvendo arte

Que faz parte de um paladar que nos faz viajar,

Basta estas palavras olhar.

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ロロロ+ (Filme muito bom )



Toys e o Tempo


Toy Story 3 (2010)

Somos brinquedos do tempo: os dias passam e somos gastos por eles. Não somos nós quem consumimos o dia após dia, mas sim o contrário. Podemos se locomover, ter rostos simpáticos, características de super heróis e fazermos inúmeras atitudes para não sermos um brinquedo a ser esquecido, mas o tempo é imparcial e um dia ficaremos dentro de um baú e esse tempo passará a gastar a memória, na cabeça de quem fica para o lado de fora.

Carisma e identidade foram algo que a série Toy Story conseguiu desde seu primeiro minuto de filme há quinze anos e isso foi se aflorando a cada seqüência, mas ao sabermos que esse pode ser o fim da série e ao acompanharmos a situação em que os brinquedos vão ficando em relação ao seu dono, chegamos à conclusão drástica de que tivemos uma vida mágica começada em 95, chegando ao ápice em 1999 e tendo o fim neste ano. Mas, a produção pode morrer feliz sabendo que fez seu papel no mundo cinematográfico em deixar um exemplo de como construir grandiosidades através da simplicidade encantadora vista nessa animação que é, sem dúvidas, uma obra de arte e não uma obra necessariamente comercial.

Os personagens humanos são em tempo real, mais precisamente a representação do passar dos dias, o que acaba se tornando uma relação do filme com o espectador. Andy, o dono dos brinquedos, agora tem dezessete anos e vai para a faculdade. Seus brinquedos negligenciados seqüestram seu celular em uma manobra para recuperar a sua atenção e atraí-lo de volta para sua caixa de armazenamento. Mas Andy está deixando de lado as coisas infantis, porém o que menos queremos ao assistir a animação é deixar toda a aura infantil de lado e é daqui que parte a tensão do longa.

O premiado Michael Arndt ("Pequena Miss Sunshine"), acaba por homenagear o modelo padrão da Pixar e estende-se aos temas anteriores dos "Toy Stories". Como todos os filmes da Pixar, isso gera um atrito entre o lúdico humor e os temas sérios. Toda história gira em torno de questões da infância e agora da separação em que o adulto precisa encontrar uma identidade significativa e deixar até aquilo que um dia representou a sua vida, de lado. O que torna o estúdio Pixar o melhor do mundo é a sua dedicação às histórias meticulosamente. Esses dilemas dramáticos lá nas sombras enlaçam as nossas emoções, fazendo-nos prender o fôlego quando eles estão em perigo e aplaudir quando eles fazem algo inteligente.

O filme deixará saudades por fazer de seus bonecos uma espécie de amigos íntimos dos espectadores, deixando uma marca em nossos corações que depois se transforma num sentimento de saudades que aguça mais e mais enquanto o filme se aproxima de sua despedida. A intimidade que as figuras têm com o espectador é impressionante, como se nos apegássemos a amigos que moram muito longe e os vemos poucas vezes no ano. A ocasião de nos sentirmos tão próximos dos personagens é nítida desde o principio por nos incomodarmos com os “toys” presos no Baú. Portanto, se alguma lágrima vier a cair não será exatamente por algo intrínseco a narrativa, porém mais precisamente por aquilo que o filme deixou em nós e só irá voltar ao ponto de erupção em nossas lembranças.

Em relação às referências das figuras, há momentos soberbos como Mr. Potato que acaba virando uma tortilha, Buzz como um autentico espanhol em que a direção é certeira em colocar esse momento próxima ao desfecho, para quebrar a linha tensa que permanecia - Barbie é construída através de fundamentos bem naturais, trazendo uma filosofia bem interessante sobre o comportamento justo. Como sempre, os detalhes da produção são impecáveis.

Particularmente, não me sinto na vontade de falar da fenomenal estética que diz muita coisa em relação à perfeição vista no roteiro, assim como a trilha sonora, mas escrevo com o coração de criança por tirar tanta abstração de algo que aparentemente nem tem tanta ambição emocional e principalmente didática, mas acaba por despertar sentimentos e nos ensinar muita coisa, diante de tanta sutileza. Na verdade, acho que esse sentimento não nasce em mim justamente pelo poder subjetivo da obra, que faz dos seus personagens e de sua técnica visual algo que já confiávamos, mas que explode um turbilhão de sentimentalidade.

A obra acaba por ter um quociente de maior humor, teoricamente, mas a Pixar deleita o filme em um nível mais profundo. "Toy Story 3", acrescenta um fio de tensão com a ameaça de que os brinquedos podem morrer a qualquer momento (aliás, é um suposto fechamento da franquia) . O filme encontra momentos de emoção honesta dentro de suas perspectivas, pois a franquia e seus personagens acabam por se tornarem carne e padecerem diante da fatalidade, trazendo os brinquedos de cara com uma trituradora de reciclagem monstruosa, e isso pode ser esmagador para os mais novos telespectadores. Mas, se isso soa como coisas pesadas, não são, pois a obra atinge mesmo são as pessoas que cresceram junto com Andy nesses quinze anos e com certeza agora já fazem parte das memórias que ficam para o lado de fora do baú.

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(Filme Excelente)

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