Quem melhor fotografou em 2014

Um dos elementos mais encantadores do cinema é a sua Fotografia, que no inglês possui seu nome próprio Cinematography. Simplificando, esse fator é percebido como se a lente da câmera, em cada quadro, conseguisse dar ao espectador uma imagem que, caso paralisada, formaria um shot perfeito. Obviamente as coisas vão além: exige um trabalho magistral para conseguir que cada enfoque se torne um vislumbre para os olhos e fazer com que o comando das escolhas das imagens se torne autêntico o suficiente para desenvolver a própria história e dar a direção o suporte para a precisão da narrativa visual. A qualidade real de um filme muitas vezes pode ser designada por essa competência, tamanha a responsabilidade que um diretor de fotografia possui. Visto isso, vamos às cinco melhores fotografias do ano.

 #5 O Grande Hotel Budapeste (Dir. de Fotografia Robert Yeoman )

Tendo uma de suas indicações ao Oscar 2015 direcionado para esse quesito, a fotografia de Budapest Hotel ganha destaque por seu contraste entre o gélido clima e o calor das cores do Hotel. O figurino consegue se harmonizar magistralmente com os ambientes e assim colabora com os aspectos fotográficos da obra. É se unificando com a precisa direção de Wes Anderson, a impecável Direção de Arte e o Figurino, que a Fotografia aqui consegue seu destaque. 

#4 Nebraska (Dir. de Fotografia Phedon Papamichael)

A retomada da estética preto e branco nos anos 2000 tem entregado fotografias primorosas e com Nebraska, de Alexander Payne, não foi diferente. Contribuindo para a frieza do roteiro e a vida estática dos personagens, aqui os fatores fotográficos se mostram harmonizados com a aura de suas figuras e coerente com os destinos da narrativa. O filme, ano passado, foi indicado também ao prêmio de melhor fotografia do ano.

#3 Ida (Dir. de Fotografia Ryszard Lenczewski)

O filme polonês, favorito ao prêmio de melhor filme estrangeiro do ano, traz uma fotografia que também usa do artifício Preto e Branco para contribuir com a gélida ambientação e clima presente na obra. Aqui, cada quadro é um primor e o capricho não foge aos nossos olhos, sabendo encaixar os objetos (inclusive os personagens) no lugar certo, mostrando que as mãos dadas com a direção é o que o torna tão grande. O longa  também conseguiu vaga dentre os nomeados a melhor fotografia do  no Oscar 2015.


#2 Inside Llewyn Davis: Balada de um Homem Comum (Dir. de Fotografia Bruno Delbonnel)

Certamente o trabalho mais inspirador de Bruno Delbonnel (conhecido por fotografar “Fausto” de Sokurov), de uma peculiaridade que realmente traz admiração a cada quadro desenhado. O filme dos Irmãos Coen não utiliza do Preto e Branco, mas com sua fotografia consegue os efeitos sensoriais quanto a sua ambientação gélida e nebulosa, trabalhada tanto em ambientes externos, quanto internos. A compatibilidade com o desenvolvimento de seu personagem principal também a de ser destacada, enaltecendo o caráter pessimista e amargo de sua vida. O longa recebeu indicação ao Oscar nessa categoria no ultimo ano.


#1 Cores do Destino (Dir. de Fotografia Shane Carruth)

O que difere o longa “Cores do Destino” (Upstream Color) dos demais filmes mencionados é o método usado para destacar a sua fotografia:   trabalha com os ambientes naturais e com as próprias cores da natureza, além de mostrar , também, um grande controle de iluminação, e de um proveito singular do zoom, dos enfoques e  desenfoques para entregar a melhor fotografia do ano. Tudo isso foi possível graças a Shane Carruth que, além de diretor, roteirista, editor  e designer também é responsável pela fotografia e assim se vê o porquê esse fator se encontra maravilhosamente bem controlado pela câmera, para resultar no primoroso aspecto fotográfico.

Os melhores do Brasil em 2014

Que sou fã e defensor (quase nazi) do cinema brasileiro muitos (ex) amigos já testemunharam. Com isso, segue a postagem dos cinco melhores filmes brasileiros do ano, somadas as menções honrosas (já que não consegui ter acesso a todos). Vale a ressalva que consegui assistir a “Praia do futuro” e “Entre Nós”, sendo este a sexta colocação e aquele a sétima. As menções ficam pelos tão comentados e elogiados “Avante popollo”, “Eles Voltam”, “Os dias com ele”, “O homem das multidões” e “A Oeste do fim do mundo”. Só não cabe aqui o devir errôneo da comparação com outras obras estrangeiras para mostrar o quanto somos bons: a sétima arte brasileira é autêntica, respira asperamente pelos próprios pulmões e tem o talento marcante, preciso e inspirador para finalizar seus trabalhos com maestria. Não mendigamos influências.  Vamos a lista:



#5 Entre Vales (Amid Valleys and Mountains)

Coprodução alemã e uruguaia, “Entre Vales” foi exibido em festivais brasileiros, latinos e chegou até Seattle. Embora o que mais atraia na narrativa seja a forma não linear com que a vida de seu protagonista vai sendo desconstruída, vale mais pelas mãos precisas de seu diretor no domínio da câmera, emplacando quadros, destacando a fotografia tão bem trabalhada na obra. A história caminha pela falência financeira e moral do seu personagem até tirar todos seus sentidos de vida, mostrando que até no lixão existem disputas de poder e se luta por espaços. 


#4 Hoje eu quero voltar sozinho (The way He looks)

O representante do Brasil a concorrer uma vaga no Oscar 2015 (ao qual já não foi escolhida), embora não seja , de fato, o melhor filme brasileiro do ano, ainda assim é de uma qualidade inquestionável. Alcançando sua maior força na direção delicada e em suas atuações , o longa consegue , trabalhando com maestria os aspectos sensoriais, atravessar a tela e entregar ao público uma obra sensível sobre as descobertas da adolescência e as ligações dos medos e anseios que se embatem violentamente nessa fase vital. O filme totalizou 21 nomeações em festivais pelo Brasil e pelo mundo, vencendo 18 delas sendo duas no festival internacional de Berlim.



#3 O Menino e o Mundo (The boy and the World)

Grande e delicada animação de Alê Abreu, dona de uma direção de arte fantástica que contribui com a sensibilidade do universo criado para o personagem e para o espectador. A produção deixa sair de si um carinho e um capricho com a obra que atinge os níveis técnicos e resultam em uma das melhores obras brasileiras do ano. O longa , que usa da aura pura e ingênua de um menino para retratar a desigualdade social, obteve 8 nomeações, vencendo sete, sendo o de maior relevância o festival de Xangai, ao qual levou três prêmios. 


#2 Quando eu era vivo (When I was alive)

Filme exibido no festival de Roma e lançado em poucos estados aqui no Brasil, “Quando eu era vivo” é um desconcertante e estranho suspense brasileiro, que consegue fazer o espectador se estranhar com a obsessão de seu protagonista tem pelo passado, após estacionar a sua vida por se ver divorciado e desempregado. O filme toma rumos misteriosos, frutos da confusão entre delírio e realidade que todas as figuras passam a se encaixar. O valor da obra está justamente em conseguir esses efeitos mencionados, já que claramente eram ansiados pela produção. Seu roteiro sólido é o que o torna marcante.



#1 O Lobo atrás da porta (A Wolf at door)

O masterpiece brasileiro (E para mim e tantos outros, o melhor de 2014) fica por conta da tensão envolvente no thriller do diretor estreante Fernando Coimbra, protagonizado por Leandra Leal. O que a torna uma obra tão grande não está somente em sua história, mas sim como todos os componentes técnicos contribuem para o cheque-mate de seu final (E que final! Daqueles de levar para sempre na memória da angústia). O diretor extrai de seus atores o máximo de talento, antes jamais mostrados, num roteiro preciso e conciso, que trabalha muito bem com a simbologia do ambiente e a magnífica edição para montar a narrativa de modo visceral, cru e marcante. “O Lobo atrás da porta” encurrala o espectador em longas tomadas  e planos fechados que ao final da fita deixa a sensação que tentou nos enforcar durante horas. O filme e sua direção foram premiadas nos Estados Unidos e na Suiça, além de festivais latinos americanos, tendo oito nomeações, sendo premiado em sete delas. Uma obra para realmente ser colocada nos clássicos brasileiros.   

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