No Caminho, com Jenny




Educação (An Education- 2009)


Já que a vida sempre nos apresenta situações de “E agora, José?”, tendemos a usar de algo para decidir o que fazer em determinada situação. E, muitas vezes, estamos destinados às influencias de quem próximos estamos através de uma confiança que nem sempre é verdadeira. Percebemos então que fomos influenciados e a festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu e a noite esfriou. Em “Educação”, que foi candidato ao Oscar de melhor filme em 2010, vê-se situação semelhante, mas enquanto a jovem Jenny recita Drummond de Andrade, os pais dela ficam No Caminho, com Maiakóvski.

Jenny é uma jovem totalmente direcionada ao estudo e a tocar seu violoncelo até quando um desconhecido em um carro chamativo lhe oferece uma carona para casa, na chuva. Isso já possibilita a narrativa a mostrar um ato convencional se tratando de uma história romântica tendo o destino como precursor. David (Peter Sarsgaard) tem 30 anos. Sedutor e carismático, David encontra maneiras sutis para insinuar-se na vida de Jenny e o rapaz possui tantos atrativos (suficientes para chamar a atenção das jovenzinhas até os dias de hoje, talvez até com maior intensidade) que seus pais Jack e Majorie a principio são tão impressionados por ele, quanto sua filha. E por mais que Jenny seja o centro, são os pais que recitam o poema.

Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.

E é aqui que percebemos que, por mais que Jenny estava sendo uma vitima, mesmo que ainda resplandeça nela um ar de desconfiança em relação a David, os pais da garota são bem mais influenciados e cômodos a toda a aura que o rapaz faz brotar nessa relação. Aliás, quando se trata de educação em si, os pais acabam por estarem mais expostos do que a própria filha e é ai que os personagens acabam por dividir forças e atenção do público, mesmo que a brilhante Carey Mulligan esteja sempre à frente de toda capacidade de atuar.

Não é exagero dizer que Mulligan é uma das razões pela qual este filme é bom. Ela interpreta uma personagem seis anos mais jovem do que sua idade real com total credibilidade, não caindo na armadilha comum de precocidade e sentimentalidade. Jenny é inteligente, determinada e consciente das coisas certas ou erradas. Mulligan encarna essas características com perfeição e mereceu ser colocado na lista de atrizes para a indicação de melhor atriz.

Sendo então Jenny tão madura para exercer certas funções, a história tenta abrir leques e expor um aprendizado maior a personagem em relação à vida, ao amor e principalmente a ela mesma. O que temos é que, diante de tantos esforços no estudo para Oxford, ela encontra um caminho mais rápido, fácil e cheio de prazeres. Porém, por mais que tente mergulhar nessas tentações e definir o estilo que David apresentava como uma nova vida a ser seguida, chega ao ponto de voltar a real identidade e logo descobrir que uma infância protegida, tais como a dela, nunca pode preparar alguém para os aspectos do mundo real.

Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.

Peter Sarsgaard, com extrema precisão em seu trabalho, completa sua figura mostrando-se um homem elegante, sendo perfeito as linhas necessárias da narrativa, sendo o homem ideal para oferecer aulas extracurriculares a Jenny. Sua vida é cheia de leilões de arte, concertos de orquestra e cercado de pessoas com o mesmo cacife. Ele é uma combinação que vai da sagacidade até a periculosidade. Com isso, os pais de Jenny são hipnotizados por maneiras elegantes de Davi e surpreendentemente dispostos a deixar Jenny em suas mãos e por mais que ela lance questões considerando o risco e a postura antiética que ela pode tomar, decidindo mudar tantas coisas por causa de David, a venda dos olhos dos pais não caem e só explodindo nas mãos da filha a bomba que o rapaz entrega para perceberem o erro que tiveram.

Quando as revelações começam a brotar no filme, percebemos que Jenny sofre mais em se decepcionar com ela mesma do que com qualquer outra coisa. Os pais, alem de perderem todos os alívios que tinham sentido quando perceberam que Jenny poderia ir para Oxford e viver dali em diante sem seu pai tirar um centavo do bolso, se perdem completamente na hora de falar em um momento tão complicado e exercer de fato a função deles, ainda mais para quem estava acostumado a falar somente das regras da casa e da escola.

Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.


E nessa exata situação que os pais de Jenny já perdem a máscara de dureza que possuíam e passam a mostrar a real face de imprudência e fraqueza, por ver que forçaram a filha a um relacionamento equivocado e que foram levados por vaidades, nada mais que vaidades. A história poderia muito bem optar com essa reflexão do erro da precipitação e definir o epílogo, mas erram feio em ir além e fazer o filme perder a aura séria que possuía e também provocar um defeito narrativo, justamente por um erro de coerência no relato. Sendo assim, até mesmo as qualidades que o filme foi ganhando no decorrer do mesmo, acabam perdendo o nível por não coincidirem com um final tão fácil e fraco.

Superficialmente pode parecer que este é um conto sobre os perigos de uma adolescente entrando em um relacionamento com um homem com o dobro de sua idade, mas Jenny embarca em sua aventura romântica com uma cabeça desobstruída. Ela é basicamente uma vítima de sua própria inocência, mas o que ocorre com ela é algo que poderia vitimar uma pessoa de qualquer idade. No final, este é mais um estudo da personagem de Jenny do que um conto de amor torturado, e um lembrete referente a escolha de caminhos que podem dar tão errado quanto a escolha do diretor pelo desfecho do mesmo.

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ロロロ (Filme bom )


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