" Aquela Cena..."

Pela primeira vez das muitas que virão daqui para frente o “Cine ao Cubo” apresenta o novo quadro do Blog que se chama “Aquela Cena...”, uma expressão muito usada nas nossas e de todas as pessoas que conversam sobre um filme em comum. E que aqui também estaremos relembrando e falando sobre a cena em questão.

Para iniciarmos e também não pegarmos um exemplo muito distante, nada como pegar uma das cenas mais comentadas de um dos melhores filmes do ano passado: O Nevoeiro.


Só para dizer que eu não avisei, daqui para frente quem não viu o filme não leia! E se não viu o filme corra para locá-lo e discutir conosco (rs!)

Poucas pessoas deixaram de sentir o impacto do final de “O Nevoeiro”, ainda pensando que forte já seria ouvir os tiros de dentro do carro, sem saber que a analogia que Frank Darabont faz a “fé” ou mais precisamente a falta dela, ficaria concreta principalmente ao mostrar uma das mulheres que estava no Super Mercado como uma sobrevivente. Além disso, “O Nevoeiro” mostra o estudo do medo e suas conseqüências que para alguns foram fatais, para outros eternamente frustrantes, como para David (Como conviver com a culpa eternamente?). E o mais intrigante de tudo, é que todos estavam lúcidos.

Uma cena marcante, que consegue se tornar clássica num ano em que o gênero esta cansado, e que resume toda a aura do filme em minutos angustiantes.

Oscar 2009: Milk - A Voz da Igualdade

Acessível e ao mesmo tempo recusado, como seu próprio personagem.
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Muito se ouve ainda em discussões sobre “O Segredo de Brokeback Mountain” dizendo que caso o filme não envolvesse a homossexualidade seria um trabalho comum (nem dando atenção a outros quesitos visuais e sonoros além da crítica universal que o longa possui), mas este ano surgi ,com uma divulgação menor do que o trabalho supracitado, “Milk – A voz da igualdade” que contesta termos ainda mais profundos, mesmo obtendo uma seriedade cruel envolta de seu personagem principal e o seu grupo, trazendo uma história mais pesada para o espectador mesmo que reserve espaço para elementos mais particulares de Harvey Milk e assim toque os observadores de mentes mais abertas.
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Esse novo trabalho de Gus Van Sant não é um intruso diante os outros quatros indicados ao Oscar, pois obtém forças ao conseguir acertar com perfeição em fatores relativos a técnica que sempre direciona a alguma ação, seja pela fotografia, trilha sonora e principalmente pela esplendida montagem que Sant usa ao juntar as imagens da época com a sua própria película. A genialidade diante das câmeras de Van Sant consegue esquadros belos até nos mais obscuros cenários, principalmente quando usa seus objetos (incluindo os atores) contra a luz em curtos espaços. Em algumas cenas se vêem a capacidade da direção quando amplia o espaço, fotografando estupendamente, através de um pequeno apito. Memorável. São essas considerações com a câmera do diretor, que consegue fluir mais ênfase ao filme, caso o mesmo apresente algo convencional.
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Sean Penn se mostra um entregue a arte cinematográfica por se mostrar um estudioso, mesmo depois de já ter ganhado o Oscar e ter deixado Bill Murray com aquela cara sem graça em 2004. Este ano, mais uma vez, Penn é um dos indicados de maneira justa, pois a sua transmissão de simpatia, por ser insinuante e aprofundar-se num sentimentalismo nos momentos humanos pela procedência da narrativa, junto com o desgaste de sua seriedade diante da política. Além dele, Josh Brolin atua com uma expressão de extrema convicção de sua figura, tornando-se assim mais uma força diante do filme, que ainda trás o jovem Emile Hirsch.
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Direcionando a sua câmera para a década de 70 para remeter a uma seqüência de semelhanças com o clima atual referente ao preconceito, mostrando que mesmo superando os diversos obstáculos daquela época, ainda resta uma infinidade de discriminações referente ao assunto. “Milk” se torna importante pela parte que toca a cada pessoa numa despesa comum: compreender a turbulência universal das três décadas passadas, igualmente notando e refletindo a luta do personagem pela igualdade que todos merecem. O que intriga é que algumas pessoas ainda concordarão com as atitudes da polícia e de Dan White.
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Cotação: ロロロロ (Filme Ótimo)

Oscar 2009: Quem Quer ser um Milionário?


Durante quase quatro anos o SBT conseguiu a liderança com o programa “Show do Milhão”, assim como superou a audiência do “obrigatório” Jornal nacional com o “Topa ou não Topa”. Essa é uma das provas de como esses entretenimentos tentadores dominam a massa. Em “Quem quer ser um Milionário?” o jogo de perguntas e respostas é usado como um imã que prende o espectador ao filme como se tudo aquilo fosse a tempo real. Pegando este ponto como o mais interessante do roteiro, o que resta de Danny Boyle são funções comuns em sua narrativa.
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O que não é tão trivial no longa são alguns acertos da direção de Boyle em fatores práticos: fotografia geralmente em cores quentes , focadas com alguns esquadros que resultam em ângulos belos (A por cima do trem é uma delas), além disso, uma trilha sonora moderna e auto astral, para não sair da tradição “bollywoodiana”, condução do elenco bem feita assim como o trabalho elogiável de seus atores e o melhor fica com a montagem caprichada sem fazer os observadores se perderem, o que, de certo modo, é difícil de acontecer já que o problema está no estilo folhetim de sua história.
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Os erros mais curiosos neste trabalho são aqueles aos quais são vistos com mais freqüência. Algumas mudanças de cenas quebrantam o clima tenso do mesmo e com isso prolonga alguns impactos na história e evidencia a estratégia de colocar para o desfecho alguns abalos que não se tornam tão fortes justamente por esse adiantamento. O espectador intrigado pelo jogo pode agravar-se pela suspensão da narrativa. Talvez não fosse tão incomodativo se nesses “Play-stop” tivessem algumas novidades sobre a pobreza que já vimos por diversas vezes em programas televisivos e principalmente pelas inevitáveis lembranças a “Cidade de Deus”.
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Aqui, em “Slumdog”, os estereótipos dos personagens não se diferenciam de qualquer outra película onde há a gangue coordenada por um Mal feitor milionário, que serve como a bendita barreira para o amor de Jamal e Latika, típico até mesmo de novela! Além de outros termos batidos que vão sendo expostos no desfecho, junto com a esperada dança, que, para mim, tem o seu “Q” de chatice.
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Ainda que muitos quesitos funcionem perfeitamente, Boyle falha por ter dado mais continuidade no menos interessante, explorando mais os termos do romance do que o intrigado jogo e duvidoso destino de Jamal perante as torturas e interrogatórios da policia, Boyle falha por sua narrativa sem muitas novidades, diminuindo a força que o filme poderia ter e que ficou apenas no visual, resultando em uma insuficiência e com algo insuficiente não se pode ir muito longe.
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Cotação: ロロロ (Filme Bom)

Oscar 2009: Frost/Nixon


Pela situação no Oscar (Ou seja, sem comparações sobre suas histórias, algo no inteior do filme, mas sim se tratando do festival) , “O Curioso caso de Benjamin Button” lembra “Forrest Gump”, “Quem quer ser um Milionário?” me lembra “Crash – no limite” e “Frost/Nixon” lembra “Conduta de Risco”.
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Sendo isso bom ou ruim, a mesma situação do ano passado aos quais alguns filmes superiores poderiam entrar no lugar de “Conduta de Risco”, neste Oscar, outros longas se enquadrariam perfeitamente entre os cinco candidatos no lugar de Frost/Nixon – só para aumentar a tristeza de ver “O Cavaleiro das Trevas” fora e principalmente Ron Howard e não Christopher Nolan como melhor direção. Diferente dos outros filmes que citaram ou pautaram o caso de Watergate,( Como Todos os Homens do Presidente, Todas as garotas do presidente, “Forrest Gump” e “Nixon”) a histórica entrevista do presidente Richard Nixon a David Frost é colocada em foco na narrativa. Após perceber que pouca coisa importa no filme a não ser as esperadas interrogações entre outros elementos significativos, é de se pensar bem se O Leitor (The Reader) é mesmo a zebra no Oscar de 2009.
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Com a narrativa toda jogada a mercê do elenco, Michael Sheen representa uma celebridade, conhecido apenas por ser conhecido e muda completamente sua vida ao entrevistar e intrigar Richard Nixon, o presidente na pele da atuação poderosa de Frank Ângela que trabalha com uma facilidade incrível, principalmente nos melhores momentos do filme (que ficam absolutamente todos na entrevista) ao confrontar-se com Sheen, mas tem aquela pedra chamada Kevin Bacon que está “a procura da atuação perfeita” há tempos e o coitado nunca consegue sair do convencional. Howard tem momentos de baixa profundidade em vários espaços, principalmente e de maneira grave no ato final. Ao construir as negociações pré-entrevista, o que obviamente foi necessário, se tornou circunscrito demais tanto na introdução, quanto ao relatar a política de Nixon. De resto, trilha sonora quase impercebível e alguns elementos tradicionais.
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Correto e com alguns bons momentos, mas que beira a normalidade.
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Cotação: ロロロ (Filme Bom)

Oscar 2009: O Leitor

Já percebemos que “O Leitor” não é mais um erro da academia ao colocá-lo entre os concorrentes, logo na primeira metade do filme. Depois de trabalharem juntos no “As Horas”, Stephen Daldry (Diretor) e David Hare (roteirista) voltam com mais um trabalho que vai além de um drama comum, nos remetendo a pensar no poder que temos com nossas atitudes, sejam elas colocadas para fora ou guardadas a sete chaves.

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Baseando-se no romance alemão “Der Vorleser” de Bernhard Schlink, a direção conduz o roteiro de maneira ágil e rodeando os mistérios da personagem Hanna Schmitz (Kate Winslet) que se tornam cada vez mais movimentados após conhecer e se envolver com Michael (Quando novo interpretado por David Kross). Os segredos envoltos de Hanna não são soltos facilmente para o espectador, pois são prolongados nos segurando na cadeira. A sua frieza, sua solidão, sua quietude e com uma demonstração de sofrimento nítida, ao qual nos roemos para saber do que realmente se trata.
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Para sentir as emoções que o filme emerge, existe uma variação das percepções do observador perante os atos da personagem principal. Há quem matará alguns porquês muito antes da própria história revelar e com isso pode não ter efeito algum, mas à ótima direção de Daldry consegue fazer algo que Amenabar fez em “Os Outros”, por exemplo: estava tudo tão evidente, fatores tão jogados a nossa cara, mas pela delineação tão segura do roteiro, faz essas evidências passar por despercebidas. Quando não isso, ao menos o diretor prolonga os segredos de Hanna ou quando percebemos de primeira a resposta da charada, Stephen ainda consegue emocionar com o clímax, mesmo que incontestável.
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Para que contestar a não indicação de Winslet por “Foi apenas um sonho”, quando aqui , em “O Leitor”, Kate consegue a sua melhor atuação? Sua incorporação à personagem é tão robusta que facilmente não será esquecida por nós, por sua encenação impecável de sua personagem tão enigmática. Os demais integrantes do elenco também estão muito bem e já valem por não deixarem apagar-se diante a perfeita interpretação de Winslet. A fotografia também tira proveito dos seus personagens geralmente despidos, em harmonia com a organização do cenário e suas luzes, além da ótima trilha sonora, bem constante durante a projeção.
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Assim como o vazio das personagens de “As Horas” atravessavam a tela e refletia em um bom número de pessoas, aqui Stephen Daldry também consegue esse ponto de maneira forte, mesmo que o motivo da figura de Hanna pareça fútil, ainda consegue impactar ao espectador que tem algo igual ou um pouco mais profundo guardado dentro de si.

Cotação: ロロロロ (Filme Ótimo)

E falando em "O Leitor"...

Nessa simpática interação entre a rede blogueira, tive a honra de ser indicado (Assim como fico honrado de indicar os meus favoritos) por gente que admiro muito, não só como pessoas (O que já é de extrema importância) mas também por tratar da sétima arte com tanto cuidado e estudo, que faz aprendermos uns com os outros. Os blogs de nível incontestável ao qual lembraram do Cine ao Cubo foram o Bit Of Everthing do Kau, Cena de Cinema da Cecilia Barroso, Cinema Para Todos do Ibertson, Portal Cine do Robson Saldanha, Sombras Elétricas por André Renato, pelo Wally do excelente Cine Vita e - para quem não sabe - por quem me incentivou a fazer um blog, o João Paulo crítico do Cine JP. Agora, minha vez.

And SELOS goes to...




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